Como apelo por renovação, dossiê aponta principais responsáveis pela boiada no Congresso
Ameaças legislativas partem da Frente Parlamentar da Agropecuária. E não por meros integrantes, mas por seus diretores mais influentes
Ameaças legislativas partem da Frente Parlamentar da Agropecuária. E não por meros integrantes, mas por seus diretores e membros mais influentes
PL da Grilagem, do Licenciamento Ambiental e do Veneno. Você já deve ter ouvido falar de alguns dos projetos que compõem o “Combo da Morte”. Além de serem uma ameaça ao meio ambiente e a sociedade num todo, pelo mal que representam, têm em comum sua origem. Todos estão associados à Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA).
Em um momento decisivo para a história do país, que precisa ir na contramão do retrocesso com urgência, o eleitorado tem acesso a várias campanhas de conscientização sobre a necessidade de fazer boas escolhas, pois são delas que dependem nossos próximos quatro anos em meio à crise climática que assola o globo.
Para auxiliar na escolha – como alerta -, o Observatório do Agronegócio, De Olho nos Ruralistas acaba de lançar um dossiê que mostra um a um, quem são os principais responsáveis por passar a boiada no Congresso.
Ao longo dos últimos meses, o De Olho nos Ruralistas analisou o histórico de atuação e as conexões empresariais destes parlamentares. Quem mantém e quem elege esses operadores? A quais interesses eles atendem? Estas são algumas das perguntas respondidas pelo do dossiê “Os Operadores da Boiada“.
O termo “boiada” se popularizou depois que o então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles – que hoje é candidato a deputado federal pelo PL em São Paulo -, disse em reunião ministerial que era preciso aproveitar o foco da mídia sobre a pandemia, para “passar a boiada”. E assim tem sido feito. O relatório atesta que precisamos mudar o Congresso Nacional.
A partir de monitoramento, o Observatório detalha que valendo-se do apoio do governo federal, as pautas ruralistas avançaram com agilidade durante o primeiro semestre de 2022: os PLs do Licenciamento Ambiental e do Veneno, por exemplo, foram aprovados em plenário na Câmara e atualmente tramitam no Senado.
O De Olho nos Ruralistas destaca que todos os projetos ameaçadores tiveram autoria ou são hoje relatadas por parlamentares da FPA. “Não por meros integrantes da frente, mas por seus diretores e membros mais influentes”. E o relatório traz um raio-x da atuação destes e também, das ligações escusas que eles mantêm com associações e grandes empresas do agronegócio, numa relação de beneficiamento mútuo.
Neste dossiê, o observatório se debruçou sobre os operadores desse sistema: os deputados e senadores responsáveis por manter a boiada em curso. Afinal, não são todos os 280 membros da FPA que estão diariamente discutindo e executando as ações definidas pela frente.
“Existe ali um núcleo duro composto tanto por ‘ruralistas raiz’ – proprietários de terras ou de empresas agropecuárias, atuando em benefício próprio – quanto por políticos que tiveram suas carreiras financiadas por grupos econômicos ligados ao agronegócio. É sobre este núcleo, composto por 52 parlamentares, para os quais o relatório joga a luz”, aponta o observatório.
Os líderes ruralistas são representados por cartas de um baralho, divididos entre quatro naipes – de motosserras, picaretas, armas e cifrões -, de acordo com sua área de atuação: do incentivo ao desmatamento e grilagem à confabulação com as associações do agronegócio e suas multinacionais; da defesa do armamento rural e criminalização de movimentos sociais à exploração desenfreada de terras indígenas.
Sem surpresas, o núcleo é formado majoritariamente por membros de partidos da base aliada ao governo de Jair Bolsonaro, destacando-se PL (14 integrantes), PP (12), MDB (8) e PSD (6).
Confira alguns dos alertas do relatório:
● Atuação parlamentar de líderes ruralistas beneficia empresas como as sucroenergéticas Cosan, FS Bioenergia, Zilor, BSBios; os frigoríficos JBS e BRF; as fabricantes de agrotóxicos Syngenta e Mitsui; as cooperativas Coamo e Cooxupé.
● Parte dessas empresas recompensa o apoio em pautas legislativas com doações de campanha de seus principais executivos. Os principais receptores de doações de executivos do agronegócio foram o presidente da FPA Sergio Souza (MDB-PR), candidato à reeleição na Câmara; a ex-ministra da Agricultura e candidata ao Senado Tereza Cristina (PP-MS); e os deputados Alceu Moreira (MDB-RS), Arnaldo Jardim (Cidadania-SP) e Pedro Lupion (PP-PR).
● A deputada federal Tereza Cristina recebeu doações de campanha de financiadores diretos do IPA, como Pedro de Camargo Neto, ex-presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB); Mario Sergio Cutait, conselheiro do Sindirações; e Maria Tereza Zahran, diretora da Famasul. A ex-ministra também recebeu financiamento de Rubens Ometto, dono da Cosan, a quem concedeu acesso privilegiado no governo.
● Os filhos do presidente ocupam um papel importante de articulação com o setor agropecuário: Flávio Bolsonaro, o Zero Um, circula entre latifundiários de Rondônia e apresentou projetos para acabar com a reserva legal e com a função social da propriedade; Eduardo Bolsonaro, o Zero Três, é o chanceler dos fazendeiros, rodando o país visitando fazendas e stands de tiro.
Entenda
Em julho de 2022, o observatório De Olho nos Ruralistas publicou o relatório Os Financiadores da Boiada – primeira parte do projeto de pesquisa sobre o funcionamento do lobby ruralista sob o governo de Jair Bolsonaro, revelando que no topo da cadeia estão algumas das principais multinacionais do agronegócio.
Entre as quais figuram a sino-suíça Syngenta, campeã em reuniões oficiais com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) desde o início do governo. Ou as alemãs Bayer e Basf, cujos executivos se reuniram mais de 80 vezes com funcionários do Mapa entre janeiro de 2019 e abril de 2022, para tratar, entre outros assuntos, do controverso Projeto de Lei nº 6.299/2002, o PL do Veneno, que flexibiliza o processo de autorização para novos agrotóxicos no Brasil.
Segundo o dossiê, compõem ainda este grupo o frigorífico brasileiro JBS, a indústria de alimentos suíça Nestlé e a processadora de grãos estadunidense Cargill — todas elas integrantes de associações que sustentam o IPA.
Já na segunda parte, o De Olho nos Ruralistas se debruçou sobre os operadores do sistema.