Foto: André Durão

 

Por Nicolas Rodrigues Campos

Com uma Copa do Mundo bem atípica batendo na nossa porta, vários detalhes podem ser levados em conta quando o assunto é logística e estratégia. Quando falamos de um mundial atípico, estamos falando, por exemplo, de vários fatores como a climatologia da sede e o dia a dia dos elencos em um ambiente novo e diferente. Detalhes minúsculos de planejamento podem fazer muita diferença e ser cruciais, mesmo quando grande parte do público sequer sabe que tal detalhe está presente.

No dia 13 de julho de 2014, a seleção alemã vencia a Argentina no Maracanã, grande palco na final. Mas essa conquista foi só o desfecho de um planejamento de longo prazo que começou depois de 2002, assim que o elenco alemão daquela época perdeu a final para o Brasil em Yokohama, Japão. Quatro anos depois a Alemanha sediou o Mundial de 2006 e jogando em casa sonhava em vencer sendo o anfitrião, mas foram eliminados pela Itália na semifinal, vencedora daquela edição.

Foto: Getty Images

Logística

A derrota em casa mexeu muito com a confederação alemã, que fez uma reestruturação no futebol germânico e no jeito de pensar futebol principalmente. E aí é se inicia a entrada da logística no futebol alemão. De acordo com a Unidade de Comércio Internacional do Banco Mundial que prepara e publica, a cada dois anos, o Índice de Desempenho Logístico (LPI), a Alemanha é líder global em inovação e em tecnologia de logística e é a maior nação exportadora do setor de intralogística. Estão localizados na Alemanha os principais nomes do mercado de logística, entre eles o Deutsche Post, que faz a implementação de decisões usadas na Copa do Mundo de 2014 pela Alemanha.

O primeiro passo da organização logística alemã foi a aproximação da seleção de futebol, por meio de seus dirigentes, com as empresas de consultoria em logística do setor público e privado do país. Brincadeiras à parte, mas os esquemas táticos não existem só dentro de campo.

Foto: Reprodução / Foothub

Após a frustração em 2006, a Alemanha entendeu que o elenco de 2010 não estaria pronto e nem maduro para vencer a edição da África do Sul e que seria necessário um tempo maior. Essas foram palavras do técnico Joachim Löw: “O Time Alemão não está pronto para essa copa, nosso objetivo é ganhar a próxima copa em 2014, no Brasil”.

O clima do Brasil e as diferenças geográficas

Um pouco antes da Copa do Mundo de 2014, o assunto na Europa de que a temperatura no Brasil exigiria maior preparo físico aos atletas já tinham deixado os europeus apreensivos. Um ano antes, na Copa das Confederações, (torneio que não existe mais e que antecedia a Copa do Mundo na mesma sede) os italianos e os espanhóis se viram mal com o calor do Nordeste. “As equipes que vão jogar em climas quentes precisam chegar ao Brasil 21 dias antes, para o atleta se adaptar ao ambiente” Palavras do ex preparador físico da Seleção Brasileira, Paulo Paixão.

Por conseguinte, a Alemanha esperou saber qual seria o seu grupo da Copa. Já conhecidos por não ter sorte em sorteio, caíram nos jogos da primeira fase onde todos os estádios que jogariam seriam no Nordeste, com temperaturas elevadíssimas. O primeiro jogo seria em Salvador (BA), depois em Fortaleza (CE) e por fim em Recife (PE). Com o território estudado, a Alemanha decidiu construir um Centro de Treinamento em Santa Cruz Cabrália, próximo a Porto Seguro, na Bahia.

Grupo G

No documentário “Die Mannschaft” (A Equipe, em tradução literal), é revelado que a seleção treinava no horário de 12 e 13 horas para se acostumar com o calor e visando os jogos que seriam realizados nesse mesmo horário. O longa-metragem de 90 minutos tem cenas inéditas que revelam vários lances de treinos feitos nos jogos, esquemas táticos e o dia a dia do elenco na Bahia.

Em Santa Cruz Cabrália (BA). Foto: Reprodução / ESPN

Voltando aos jogos da primeira fase, a Alemanha sabia que se passasse em primeiro lugar na fase de grupos, iria jogar o mata-mata e a final em estádios da região sudeste do Brasil, onde seria menos calor do que nos estados anteriores. Tirando o fato de que a experiência do Nordeste daria muita resistência aos alemães.

Em consequência, como já conhecemos, a Alemanha venceu o incrível Mundial de 2014 com muito merecimento. A Copa do Mundo no Brasil teve uma “vibe” e um sentimento muito bonito e que sempre estará guardada nos nossos corações de amantes de futebol.

“É por isso que fomos campeões. Todas as pessoas contribuíram. Estivemos como uma unidade, porque todos queriam esse objetivo. Tivemos, claro, alguns problemas, alguns machucados como o Reus, que não veio. Ele também é campeão, a Alemanha inteira é campeã”, Manuel Neuer, goleiro tetracampeão da Alemanha.

A Alemanha fez o processo de planejar, organizar e controlar o fluxo (Transporte de jogadores no deslocamento entre cidades sedes) e armazenagem (construção do CT e adquiriu informações e as utilizou em prol de sua meta), de forma eficaz e eficiente, assim como é a definição da logística.

Com isso em mente, abre-se a discussão e o debate acerca do porquê a seleção brasileira preferiu passar a sua última semana treinando em Turim, norte da Itália, onde no momento tem temperaturas muito baixas, o que não condiz com a realidade sobre o que vai ser a copa no Catar, com temperaturas elevadíssimas, mesmo existindo climatizadores dentro dos estádios, é curioso.

Várias seleções europeias optaram por treinar no Catar, como a Inglaterra por exemplo. Justamente por saber que a adaptação dos atletas é super importante. Então queremos saber de você leitor, o que acha sobre a escolha da CBF?