Confira entrevista exclusiva com Onã Rudá, fundador do Coletivo de Torcidas Canarinhos LGBT e membro da Comissão da Diversidade no Futebol criada pela CBF

Foto: Rafaela Araujo

Por Junior Santtos

Já estamos próximos do maior evento esportivo do planeta, a Copa do Mundo que neste ano terá a sede no Catar, país da península árabe. Com um grande movimento de pessoas de varias regiões e culturas, dentre essas, percebemos a fragilidade e insegurança da comunidade LGBTQIA+ no país. 

Um dos relatos feitos pelo major-general Abdulaziz Abdullah, em entrevista à agência Associated Press, foi que a segurança de pessoas LGBTQIA+ não pode ser assegurada durante a copa do mundo no Catar. Com esse cenário de insegurança, devemos ficar atentos para mantermos a proteção da comunidade LGBTQIA+. 

Em setembro deste ano aqui no Brasil tivemos o lançamento do 1º Anuário do Observatório de LGBTfobia no Futebol Brasileiro com dados de janeiro de 2020 a julho de 2021, produzido pelo Coletivo de Torcidas Canarinhos LGBTQIA+, com o objetivo de reunir casos de violências, ações dos clubes e atuação das torcidas LGBTQIA+ no futebol. 

Para fazermos uma abordagem entre esses dois temas necessários, convidamos Onã Rudá (@onaruda2), fundador do Coletivo de Torcidas Canarinhos LGBT, da Torcida Lgbtricolor BA e membro da Comissão da Diversidade no Futebol criada pela CBF para debater as ações e políticas de combate à discriminação no futebol, a fim de dialogar e enxergar alguns avanços pertinentes. Confira a entrevista abaixo:

Após o lançamento do 1º Anuário do Observatório da LGBTfobia no Futebol no Brasil, já tivemos alguns avanços que ajude no combater as ações lgbtfóbicas na Copa do Catar?

Em reunião com o assessor de diversidade e antidiscriminação da FIFA, foi apresentado um conjunto de medidas que estão sendo adotadas pela entidade, para garantir a proteção e segurança das pessoas LGBTQIAP+ durante o período da Copa do Mundo no Catar. Sendo elas: capacitação do time da CBF, da delegação e funcionários, até a formação e capacitação de policiais locais para saber como lhe dá no combate à discriminação e ao preconceito.

Com todos esses debates e o observatório contra a lgbtfobia, o que deve ser feito para que efetivamente ela seja punida?

No ponto de vista desportivo, temos vários mecanismo de punição, a questão é que a punição por si só não muda uma cultura, se mudasse a gente não teria assassino, não teríamos pessoas que roubassem dinheiro público. A punição tá ai, o que eu acho que incentiva e estimula esse tipo de ação primeiro é a impunidade, não adianta só dizer que tem a possibilidade de ser punida e ela não ser aplicada efetivamente,  e segundo é o trabalho efetivo na mudança da cultura dentro dos clubes. E temos vários caminhos dessa punição, como multa para diretoria, retirada de pontos que acaba afetando a torcida e a diretoria, além da perda no mandato de campo entre outros. Então temos vários mecanismos, a questão é colocar isso em pratica e por fim fazer outras coisas paralelas a isso.  

O coletivo canarinhos LGBTQ tem dialogado muito com a FIFA para buscar soluções contra lgbtfobia no Catar, já temos algum progresso!?

Após a reunião institucional que tivemos, o coletivo canarinhos LGBTQ enviou um documento com 25 perguntas para a FIFA questionando no detalhe como cada medida apresentadas por eles irão funcionar na prática. Medidas a serem tomadas pela FIFA: Sistema de Monitoramento antidiscriminação, 200 voluntários que atuarão no combate à discriminação, mecanismos de reclamações e denúncias com retornos em no máximo 48h entre outras. Então são algumas ações, mas a gente que saber como eu denuncio? Qual o telefone? Qual o e-mail? Qual o app? Qual o site? Precisamos entender quais as implicações legais que estão sendo trazidas para esse momento. Queremos fazer um Guia para as pessoas lgbts brasileiras que estarão na copa e para pessoas que não são lgbts de como elas podem se defender e se proteger do preconceito. E uma das informações recente, foi a permissão do uso das Bandeiras LGBTQIA+ durantes os jogos no Catar. 

Diante desse diálogo podemos perceber o movimento de ações para atender e tornar o ambiente mais seguro para comunidade lgbtqia+ na copa no Catar. Com as medidas traçadas pela FIFA e o monitoramento do coletivo canarinhos LGBT, agora falta pôr em prática as mesmas. Mas precisamos de muito mais, estaremos atentos e fortes nessa causa.

Baixem o anuário do observatório de LGBTfobia no futebol brasileiro.