Para coordenador da Coalizão, falta de acesso revela que as injustiças climáticas se traduzem no racismo (Mídia Ninja)

 

Por Marcos Felipe Sousa, para a Cobertura Colaborativa NINJA na COP26 

Até o dia 12 de novembro, todas as atenções estarão voltadas a Glasgow. A 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP26, começou neste domingo. Dentro da programação, o evento da Coalizão COP26 também começou hoje. Ele reúne ativistas, organizações e movimentos sociais que lutam pela justiça climática global. O encontro intitulado “A era da injustiça acabou” ocorreu simultaneamente à agenda oficial.

A coalizão traz como demandas a luta para limitar o aumento da temperatura global a 1,5ºc. É por isso, que defende o fim de investimentos em combustíveis fósseis, financiamento de países pobres, atenção a comunidades tradicionais do mundo todo e ainda, rejeita o que consideram falsas soluções, como o mercado de carbono.

A exclusão da participação dos povos indígenas, negros e negras e organizações do sul global na agenda oficial da COP26 foi alvo de críticas.

Quan Nguyen foi o apresentador do evento que ocorre paralelamente à agenda oficial (Mídia Ninja)

Quan Nguyen, coordenador da Coalizão COP26, citou as dificuldades para esses povos chegarem até Gasglow, assim como a importância de se fazerem presentes. Para Quan, isso demonstra que as injustiças climáticas também são injustiças com os propósitos do racismo, do sexismo e do machismo.

Asad Rehman, membro da War on Want, que luta pelos direitos humanos e contra a pobreza global, citou que a crise climática é razão de uma estrutura de crises sociais. Estas que começaram há centenas de anos, com a escravidão, o imperialismo e a exploração de pessoas e recursos naturais.

O ativista também criticou potências mundiais do capitalismo, afirmando que a vida negra não importa para estes governos. Ele finalizou a sua exposição sendo aclamado pelo público ao criticar a atuação do governo do Reino Unido e o Norte Global durante a pandemia, dizendo que muitas vidas poderiam ter sido salvas.

O representante da Stop Climate Chaos Scotland, Tom Ballantine, reforçou as falas dos que o antecederam, ressaltando que os estudantes e trabalhadores não querem apenas que seja atingido a faixa de 1,5º C de temperatura nas próximas duas décadas – o melhor dos cenários -, mas que os países desenvolvidos paguem pela crise ecológica.

Segundo Tom, nós só iremos sair da crise climática, ambiental e social com transformações estruturais, cortando as emissões de gases do efeito estufa, com financiamento exclusivo para a justiça climática e políticas públicas para isso acontecer.

Outra organização que se fez presente foi a Stop Cambo, ativistas que buscam bloquear um novo campo petrolífero na Escócia. Lauren MacDonald, representante do movimento, denunciou a exploração intensiva do petróleo, gás e do carvão. A ativista também alertou aos movimentos em defesa da justiça climática para que não enfraqueçam, e que ano após ano a pressão das organizações sociais sejam intensificadas.

Mas uma crítica ferrenha ao discurso evasivo de lideranças, Lidy Nacpil, integrante da “Asian Peoples’ Movement on Debt and Development”, denunciou que os grandes acordos internacionais não significam nada sem ações concretas, principalmente para os que já estão sofrendo os efeitos das mudanças climáticas.

Jovens fizeram importantes intervenções durante o evento, como Kevin Mtai, membro da Fridays for Future MAPA. Ele disse que é fundamental que se cobre das lideranças políticas o preço da crise climática, e que isso resulte em ações efetivas. Alertou ainda que as pessoas do Sul global estão sofrendo intensamente o peso da crise ecológica, e que eles não devem pagar essa conta.

Kevin convidou todos para participarem da greve em Gasglow que será feita pela organização Fridays for Future. Finalizando as falas, Camille Barbagallo, da Coalizão COP26, também defendeu que as pessoas precisam ir para as ruas lutar pelo clima além das salas da ONU. Além de denunciar o fato de muitas pessoas não poderem estar presentes em Gasglow por culpa do racismo. O primeiro evento organizado pela Coalizão COP26 se findou com a apresentação cultural de Àdhamh Ó Broin (músico escocês) e Minga Indigena (coletivo de povos indígenas de todo o continente americano).

 

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