Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo poderá fazer história? Brendan Fraser ou Austin Butler levarão o prêmio de melhor ator? E alguém realmente estará assistindo?

Michelle Yeoh, Ke Huy Quan, Stephanie Hsu, Jamie Lee Curtis e James Hong durante a 29ª edição do Screen Actors Guild Awards in California. Fotografia: Frederic J Brown/AFP/Getty Images

Originalmente publicado em The Guardian

Não consigo me lembrar da última vez que um consenso se uniu de forma tão forte em torno de um indicado aos Oscars quanto no caso dessa mistura de comédia familiar de ficção científica muito admirada. Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo ganhou em todas as indicações no Guild Awards (Produção, Atores, Roteiristas e Diretores), e nenhum filme jamais conseguiu esse feito e não ganhar o Oscar de melhor filme.

De fato, nesta fase, em vez de ganhar toda aquela bugiganga, a equipe por trás do longa pode muito bem estar olhando para algo maior, ou seja, o maior número de vitórias do Oscar de todos os tempos, posto dividido por Ben-Hur, Titanic e Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei. Para isso, Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo precisará vencer em todas as 11 categorias que foi indicado. Isso parece uma tarefa difícil – o filme não é considerado favorito nas categorias de trilha sonora original e figurino – mas não impossível.


2. Quem ganhará as categorias dos atores?

Brendan Fraser em uma cena de A Baleia. Fotografia: AP

Algumas das categorias deste ano já parecem decididas, em grande parte graças ao domínio de Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, mas as categorias de melhor atriz e ator parecem curiosamente equilibradas. Como Melhor Atriz, Michelle Yeoh, de Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, enfrenta Cate Blanchett, indicada por Tár. Blanchett foi considerada uma vencedora certa há algumas semanas, mas então Yeoh ganhou o prêmio de melhor atriz no Screen Actors Guild, normalmente um prenúncio bastante sólido para o equivalente ao Oscar.

No prêmio de Melhor Ator, é bastante notado a disputa entre Brendan Fraser (por sua atuação em A Baleia, acima) e Austin Butler (por Elvis). Essa é uma disputa entre gerações interessante: os eleitores vão querer celebrar um ator mais velho e esquecido ou coroar uma nova estrela?

3. O sentimento pró-Ucrânia poderia ajudar alguns indicados?

Tudo quieto da Netflix na Frente Ocidental. Fotografia: Netflix/PA

Segundo relatos, o pedido de Volodymyr Zelenskiy para comparecer à cerimônia deste ano via chamada de video, depois de fazer o mesmo ano passado, foi recusado pela Academia. Apesar do desprezo à Zelenskiy, a invasão russa da Ucrânia tem uma espécie de presença entre os filmes indicados: a categoria de documentário inclui o profundamente comovente A House Made of Splinters (que conta as lutas de um orfanato na região ocupada de Donbass) e o excelente Navalny (sobre a situação do líder da oposição russo preso), com o último sendo o favorito para vencer.

E, embora não esteja relacionado com a invasão, tanto no assunto quanto na inspiração, o sentimento anti-guerra de Nada de Novo no Front (acima) o levou à frente dos indicados a melhor filme internacional e até mesmo na corrida ao prêmio de melhor filme.

4. Alguém realmente irá assistir?

Will Smith no Oscar 2022. Fotografia: Robyn Beck/AFP/Getty Images

Assim como a atenção do público no Oscar parecia estar atingindo mínimos históricos, Will Smith (acima) apareceu com a mão estendida. O tapa de Smith não ajudou muito com a audiência da cerimônia do ano passado – foi a segunda transmissão do Oscar menos assistida na história, atrás apenas da edição de 2021, afetada pela pandemia – mas reviveu um interesse grande do público pelos Oscars, e pode muito bem ajudar a aumentar a audiência da cerimônia deste ano.

O problema, claro, é que a Academia, como organização, ficou envergonhada com o tapa, reconhecendo com razão que prejudicou a credibilidade do Oscar e, portanto, fez tudo o que pôde nos meses seguintes para garantir que algo assim nunca acontecesse novamente. Portanto, é provável que seja uma cerimônia particularmente avessa ao risco a esse respeito, o que pode mais uma vez afastar os espectadores casuais. Então, a longo prazo, você imaginaria que o interesse geral no Oscar provavelmente continuaria em sua trajetória descendente. Mas há boas notícias para as pessoas que realmente gostam da longa cerimônia de horas. Depois de descartar várias categorias para a transmissão do ano passado, este ano eles estão transmitindo tudo. Justiça para a categoria de melhor figurino!

5. Nossa ideia de um ‘filme dos Oscars’ é coisa do passado?

O elenco e a equipe de CODA (No Ritmo do Coração) no Oscar 2022. Fotografia: Robyn Beck/AFP/Getty Images

Dez anos atrás, Argo – o drama de Ben Affleck sobre um esquema para retirar diplomatas americanos de um Irã na era da crise de reféns sob o pretexto de gravar um filme de ficção científica – ganhou o Oscar de melhor filme. Foi visto como um vencedor surpresa na época, mas, analisando novamente, sua vitória parecia totalmente previsível. Argo era um “filme do Oscar” perfeito: direto e bem feito, evitando dizer qualquer coisa confusa ou ambígua, em vez disso amarrando um arco hollywoodiano em um assunto complexo. E foi um filme sobre produção de filmes (de certa forma também), algo pelo qual os eleitores do Oscar enlouquecem.

Na década desde a vitória de Argo, porém, a ideia de um filme vencedor na categoria de melhor filme mudou drasticamente, com as vitórias ​​​​de filmes como Moonlight, Parasite e Nomadland. Escrevi sobre isso em uma edição do Guia antes do Oscar do ano passado e… então CODA (No Ritmo do Coração), um “filme do Oscar” bastante tradicional (embora, como Argo, bem feito) foi e ganhou (acima), destruindo completamente meu argumento.

Porém, se Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo – um filme de gênero estonteante e muitas vezes bobo que nos anos anteriores não teria chegado nem perto da lista de indicações ao melhor filme, muito menos ganhar a categoria – triunfar este ano, isso irá sugerir que Coda é uma excessão, e que os filmes mais ousados ​​e estranhos agora se tornarão o padrão. Agora vamos esperar que a Academia não me faça de bobo de novo, com os Fabelmans ganhando.

Redação: Gwilym Mumford
Tradução: Isabella Rigby
Para a cobertura colaborativa da Cine NINJA