Uma pesquisa conduzida por cientistas brasileiros e portugueses revelou que as ondas de calor no Brasil foram responsáveis por aproximadamente 48 mil mortes nas últimas duas décadas, com idosos, mulheres, negros e pessoas com baixa escolaridade sendo as principais vítimas. O estudo, liderado pelo físico Djacinto Monteiro dos Santos, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), aponta para um aumento significativo na frequência e intensidade desses eventos climáticos extremos.

A referência para a comparação é uma pesquisa do ano passado do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) que chegou à conclusão de que, de 1988 a 2022, houve cerca de 4,1 mil mortes de brasileiros por deslizamentos em 269 municípios de 16 Estados.

O levantamento, publicado no periódico científico Plos One, utilizou o Fator de Excesso de Calor para definir as ondas de calor, considerando intensidade, duração e frequência dos aumentos de temperatura prejudiciais à saúde humana. Foram analisadas 14 áreas metropolitanas brasileiras, abrangendo 35% da população nacional. O estudo destaca não apenas um aumento na quantidade, mas também na duração das ondas de calor.

Segundo o estudo, houve um salto impressionante de 11 ondas de calor anuais na última década, em comparação com no máximo três na década de 1970. Os grupos mais vulneráveis a esses eventos extremos são identificados como idosos e mulheres, devido a fatores fisiológicos e maior incidência de comorbidades. Além disso, pessoas pardas, negras e com menor nível de escolaridade também são consideradas mais suscetíveis.

Os pesquisadores alertam para a necessidade de medidas preventivas, propondo a instalação de sistemas de alerta semelhantes aos utilizados para enchentes e deslizamentos, visando prevenir mortes decorrentes das altas temperaturas. Carlos Nobre, ex-diretor do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), destaca o sucesso das medidas implementadas para prevenir mortes por deslizamentos e alagamentos, com mais de 4 mil pluviômetros espalhados por 1,2 mil cidades monitorando pontos de maior risco.

*Com informações da BBC e O Globo