Ato realizado em 2018 por estudantes da Universidade de Coimbra. Foto: Reprodução / Facebook

O caso de agressão sofrido por uma estudante brasileira em Portugal na última semana tomou conta dos noticiários portugueses, ganhando repercussão também no Brasil. O caso, contudo, não é isolado e reabriu um importante debate sobre a xenofobia de imigrantes, especialmente brasileiros e/ou de pele preta, em cidades portuguesas. Os relatos podem ser ainda mais preocupantes se pesquisarmos casos especificamente em escolas ou creches, como o ocorrido contra a brasileira de 11 anos na última sexta-feira (12).

“Minha filha ouviu de uma auxiliar ao empurrar de volta um miúdo que tinha empurrado-a primeiro: ‘cá não é a selva de onde vieste. Comporta-te’. Minha filha tentou argumentar que estava só se defendendo, mas a colaboradora não quis saber”, disse Leilah, mãe uma ex-aluna da escola Voz do Operário. Ela relata que a filha era chamada de “a brasileira da boca estranha”, por conta de um problema dermatológico que tinha no entorno da boca.

O relato foi divulgado em uma reportagem de Cíntia Rocha para a CT Coluna de Terça, junto a diversos depoimentos envolvendo assédio, agressão verbal e até mesmo agressão física de cunho xenofóbico no ambiente escolar. E em muitos dos casos, os agressores eram os próprios professores.

“Estamos recebendo dezenas de relatos de agressões e xenofobia sofrido em escolas portuguesas. Tudo começou quando a Maria nos procurou pra pedir ajuda depois de seu filho de 7 anos ser agredido até sangrar na escola”, informou o perfil Brasileiras Não Se Calam, que expõe casos de violência contra brasileiros em outros países. “Infelizmente, isso mostrou-se ‘comum’. Muitos silenciam por medo, por proteção. Outros mudam as crianças de escola”.

O relatório “Experiências de Discriminação na Imigração em Portugal“, lançado pela instituição Casa do Brasil de Lisboa (CBL) em dezembro de 2020, mostrou que 86% dos imigrantes em Portugal já sofreram discriminação por conta de sua nacionalidade e os estereótipos ligados ela. A pesquisa “COMBAT – O combate ao racismo em Portugal: uma análise de políticas públicas e legislação antidiscriminação, entre 2006 e 2016”, da Universidade de Coimbra, traz outro dado. Das denúncias de discriminação no país, 44% era baseada com base na nacionalidade da vítima, principalmente brasileira, ucraniana, romena e moldava. Já 34,6% dos atos de discriminação se referem ao preconceito racial baseado na cor da pele.

As denúncias de discriminação racial e por nacionalidade podem ser feitas online no site da Comissão para a Igualdade contra a Discriminação Racial (CICDR), e não precisam ser feitas pela vítima, mas por testemunhas, familiares e amigos.

 

Brasileira de 11 anos é agredida em escola de Portugal e provoca outros relatos de xenofobia no país