Foto: arquivo pessoal estudantes universitários brasileiros na Colômbia

Universitários brasileiros que ganharam bolsas de estudos para estudarem em países da América Latina estão presos no México e Colômbia por causa da pandemia. Com as bolsas e vistos prestes a vencerem, eles aguardam um voo humanitário como única solução para retornarem ao Brasil

Por Mauro Utida para Mídia NINJA

Em condições financeiras limitadas e com vistos e bolsas de estudo prestes a vencerem, centenas de estudantes brasileiros na Colômbia e México aguardam voo de repatriação para retornarem ao Brasil. Em comum, reclamam da falta de esclarecimentos e amparo por parte das embaixadas dos países e do Itamaraty.

Apesar de estarem em diferentes países da América Latina ,a situação de cada grupo de estudantes é parecida. Em ambos os países, o governo brasileiro informa ter realizado dois voos de repatriação e os estudantes estão a espera de um terceiro.

Na Colômbia, a comunidade brasileira de estudantes está unida e mantém o cadastro de aproximadamente 60 cidadãos brasileiros, incluindo turistas e famílias. O grupo tem se manifestado pelas redes sociais com a #QueremosRepatriacaoBraCol e pedem ajuda para amigos e familiares para pressionar a embaixada, através do e-mail: [email protected], para que o grupo retorne para casa.

Foto: arquivo pessoal estudantes universitários brasileiros na Colômbia

O estudante de Engenharia Ambiental e Sanitária da Universidade Federal de Lavras-MG, Wesley Gonçalo de Silveira, 24 anos, estava com passagem marcada para retornar ao Brasil pela companhia aérea Alianca, mas o voo foi cancelado por duas vezes e adiado para o próximo dia 2 de junho. Porém, há o risco do voo não acontecer porque o governo federal colombiano fechou temporariamente as fronteiras aéreas do país até o dia 31 de agosto.

A bolsa de estudo de Wesley também vence neste mês de maio e junto com ela, o seu seguro de saúde, exigido pela Universidade La Gran Colombia, e que ele não tem condições financeiras de renovar. O brasileiro natural de Brazópolis-MG solicitou a prorrogação da bolsa de estudo junto a secretaria de relações internacionais da universidade, mas ainda não recebeu a resposta da reitoria.

Foto: Arquivo pessoal Wesley Gonçalo

Em resposta a carta enviada pelos brasileiros à Embaixada do Brasil em Bogotá, o órgão informa que apoiou o retorno de 557 brasileiros e estrangeiros residentes no Brasil desde o início do fechamento das fronteiras pelo presidente Ivan Duque, em 16 de março. Com dois voos de repatriação nos dia 5 de abril e 9 de maio, a embaixada destaca que os voos foram divulgados no site e decolaram com assentos disponíveis “devido a falta de interessados”.

Wesley questiona a informação da Embaixada do Brasil em Bogotá de que não houve interesse dos brasileiros em embarcar no voo de repatriação. Segundo o estudante universitário que vive na cidade de Armenia, a 380 km de Bogotá, o primeiro voo de repatriação foi avisado dias antes do embarque e ele não conseguiu chegar a tempo porque o governo colombiano exige uma declaração para transporte interestadual, que pode demorar até 48 horas para ser liberada.

“Não houve tempo para embarcarmos no primeiro voo de repatriação por causa das questões burocráticas que inviabilizaram a viagem. Já no segundo voo, o governo diz que foi repatriado, mas na verdade foi organizado pelo governo da Colômbia e cobrado o valor de U$ 450 dólar, o que para muitos brasileiros ficou inviável. Nossa única esperança é a reabertura do espaço aéreo e a volta dos voos comerciais ou um voo humanitário por parte do governo brasileiro”, informa Wesley.

Para os brasileiros que estão na Colômbia e não têm condições financeiras de comprar a passagem de volta ao Brasil, a Embaixada do Brasil em Bogotá orientou ao grupo a preencher a declaração de hipossuficiência, junto a Defensoria Pública da União, que trabalha em conjunto com a divisão de Assistência Consular para auxiliar todos os nacionais que desejam retornar ao Brasil. Porém, o grupo de brasileiros foi informado que a declaração de hipossuficiência está suspensa para fins de repatriação. “O assunto está sendo analisado pela Consultoria Jurídica do Ministério das Relações Exteriores e, até o momento, a orientação é que não sejam emitidas as declarações”, conforme resposta da Defensoria.

O Ministério das Relações Exteriores foi comunicado sobre os problemas dos brasileiros na Colômbia, mas não respondeu até o fechamento desta matéria.

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) encaminhou, na última terça-feira, dia 26, ofício ao ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, cobrando o auxílio na repatriação dos estudantes brasileiros retidos na Colômbia por conta do fechamento das fronteiras.”É inadmissível que qualquer cidadão brasileiro seja abandonado em outro país sem nenhum tipo de auxílio e apoio do governo brasileiro”, escreveu.

MÉXICO – No México, o governo brasileiro concedeu dois voos de repatriação – dia 24 de abril e dia 17 de maio – porém há ainda cerca de 200 brasileiros aguardando para retornar ao Brasil, a maioria estudantes universitários.

O terceiro voo está marcado para o dia 6 de junho, porém a Embaixada e o Consulado-Geral do Brasil no México informa, através do site do Itamaraty no México, que a viagem será realizada pela agência de viagens mexicana “Mundo Jovem”, com 140 lugares na ida e 120 na volta (concedido a mexicanos no Brasil), no valor de U$ 900 dólares, cerca de R$ 5 mil.

A informação publicada no site do Itamaraty do México, no último dia 25 de maio, revoltou os brasileiros que não têm condições financeiras de arcar com esse valor para retornarem ao Brasil, visto que muitos já possuem passagem aéreas compradas, mas tiveram seus voos cancelados em razão da portaria do governo brasileiro, de 19 de março, que restringiu a entrada no país de estrangeiros, incluindo do México.

Foto: arquivo pessoal

É o caso do estudante de medicina da Universidade de Tiradentes-SE, Bruno José Santos Lima, de 22 anos, que está em intercâmbio, desde janeiro, na Anáhuac Mayab Universidad, em Yucatán. A bolsa de estudo e o visto de Bruno vencem em junho, mas desde o avanço da pandemia ele tenta antecipar o voo de volta para o Brasil. Ele já teve dois voos cancelados, em abril e junho, pela companhia aérea CopaAirlines, e não há previsão de um novo voo.

No dia 16 de maio, Bruno encarou uma viagem de ônibus e avião doméstico para conseguir embarcar no voo de repatriação do dia seguinte, porém não foi selecionado e ficou na lista de espera. Desde então, ele está hospedado em um hotel na Cidade do México, para ficar próximo ao aeroporto e tentar embarcar no próximo voo de repatriação do governo brasileiro.

“Estou pagando aluguel e preocupado com a próxima mensalidade que vence dia 5 de junho, além do visto com risco de pagar multas. Minha esperança é que um voo humanitário saia antes. A situação está bem complicada. Muitos brasileiros que ficaram na lista de espera estão em situação ainda pior, alguns até dormindo no aeroporto e até mesmo na rua”, denuncia.

Foto: arquivo pessoal Bruno José

Problemas diplomáticos no Consulado do Brasil no México atrapalham o retorno dos brasileiros ao país. Cinco vice-cônsules assinaram uma carta com críticas a embaixadora Wanja Campos da Nóbrega, que é consul-geral. Os servidores, que são funcionários de carreira do Itamaraty, acusam a embaixadora de dificultar a repatriação de brasileiros. A carta foi enviada as autoridades do Itamaraty, à Corregedoria e também ao sindicato dos servidores.

O Ministério das Relações Exteriores também não respondeu os questionamentos da reportagem sobre a situação dos brasileiros no México até o fechamento desta matéria.