O desmate na Amazônia é o principal vetor para o aumento, sendo responsável por 77% das emissões

Segundo o SEEG, em 2021 o país emitiu 2,42 bilhões de toneladas brutas de CO2 (Peter Muller para a WWF)

O desmatamento continua sendo o grande vilão do aumento das emissões de gases de efeito estufa no Brasil. De acordo com levantamento do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases do Efeito Estufa (SEEG), em quase duas décadas, foi 2021 que amargou a maior alta de emissões: o salto foi de 20%. Só se equipara ao registrado entre os anos de 2002 e 2003, que atingiu a mesma marca.

Dados do SEEG, apontam que em 2021 o país emitiu 2,42 bilhões de toneladas brutas de CO2, enquanto que em 2020, emitiu 2,16 bilhões de toneladas, ou seja, houve um aumento de 12,2%, em relação a 2020.

O Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), que no Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima (SEEG) analisa as emissões por mudança de uso da terra – majoritariamente por desmatamento e fogo associado -, indica que o desmate na Amazônia é o principal vetor para o aumento, sendo responsável por 77% das emissões.

Ambientalistas esperam que o governo Lula, bastante focado a desenvolver ações de combate à crise climática, estimule a Agricultura de Baixo Carbono, pois os modos de produção da agropecuária praticada no Brasil estão diretamente associados às altas emissões.

A pesquisadora do IPAM e SEEG, Julia Shimbo destaca que o Brasil tem a chance de voltar a ser um dos protagonistas globais nas reduções das emissões. “Reduzindo o desmatamento em todos os biomas e cumprindo os compromissos assumidos internacionalmente”, aponta.

O levantamento indica que as emissões causadas por desmatamento cresceram em todos os biomas e de modo mais expressivo, na Mata Atlântica (65%), Amazônia (17%) e Pantanal (15%). No Cerrado o aumento foi de 4%, na Caatinga e no Pampa, de 3%.

Da mesma equipe de pesquisa do IPAM e SEEG, Bárbara Zimbres destaca a necessidade de ações mais efetivas. Realça que a taxa de desmatamento em 2021 na Amazônia Legal foi de 13.038 km², o maior nível desde 2006, quando o desmatamento estava em franco decrescimento desde 27.772 km² em 2004. Ela, que é responsável pelo cálculo de emissões por mudanças de uso da terra no Brasil, cita dados do Prodes, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

“Isso demonstra que o aumento das emissões atualmente está refletindo esse retrocesso e a redução das ações de combate e fiscalização de desmatamento no país”, destaca Bárbara.

O SEEG também apresenta como dado adicional o impacto das queimadas não associadas ao desmatamento nas emissões, que são os incêndios florestais em vegetação nativa, por exemplo. Essas emissões ocorrem por conta da degradação da vegetação nativa atingida pelo fogo, mas atualmente não são contabilizadas no Inventário Nacional de Emissões do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. Se fosse considerado este tipo de queimada, a média de emissões anuais do país poderia aumentar 8%.

O coordenador do SEEG, Tasso Azevedo, diz que o balanço de dez anos do Sistema mostra que o Brasil teve uma década perdida para controlar sua poluição climática.

“Desde a regulamentação da Política Nacional sobre Mudança do Clima, em 2010, nós estamos patinando. Não apenas não conseguimos reduzir nossas emissões de maneira consistente, como as aumentamos nos últimos anos, e de forma expressiva”, destaca.

“O Brasil tem as ferramentas de política pública, a tecnologia e os recursos para mudar sua trajetória, mas é preciso que o governo e a sociedade entendam que isso é fundamental para dar segurança à população em tempos de eventos extremos acelerados e também para alavancar a economia”, afirma Tasso.