Somos uma nação com milhões de famintos. Diariamente o aumento da fome na população brasileira é sentindo por mais e mais pessoas. Hora e outra a “pandemia da fome” é ilustrada através de números em estudos ou pesquisas. Números que chocam e mostram o horizonte desesperador que temos pela frente enquanto sociedade.

Uma nova pesquisa sobre a insegurança alimentar no Brasil foi divulgada ontem (25/05) pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). O levantamento analisou dados coletados pelo instituto Gallup entre agosto e novembro de 2021 em 160 países e concluiu que o número de brasileiras e brasileiros que não tiveram dinheiro para comprar comida, ou seja, ficaram sem comer, saltou de 30% em 2019 para 36% em 2021. O Brasil ultrapassou pela primeira vez na história a média global de insegurança alimentar (35%).

A pesquisa aponta também que dentre os 20% mais pobres brasileiros, 75% responderam afirmativamente se havia faltado dinheiro para a compra de alimentos nos últimos 12 meses. Entre as mulheres, a taxa chegou a 47%; e a 45% para as pessoas com idades entre 30 e 49 anos —percentuais acima da média global. Ou seja, os dados dessa pesquisa deixa claro mais uma vez que a fome tem classe e gênero.

Levando em consideração que a coleta dos dados utilizados nessa pesquisa foi realizada ainda durante o pagamento das parcelas de R$ 150 e R$ 375 do auxílio emergencial para 39,2 milhões de famílias e também antes da guerra da Ucrânia, a situação da fome hoje no Brasil podem ser muito mais assustadora do que temos conhecimento.

Em entrevista à Folha de São Paulo, Renato Mafuf, coordenador da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), afirma que os fatores que mantinham os níveis elevados de fome entre os brasileiros até 2020 se agravaram no ano passado; e seguem em deterioração neste ano.

“Para completar, não há política de governo estruturada contra a fome, só reações voluntariosas, com medidas pontuais, como a redução de tarifas de importação. Não há nenhuma razão para acharmos que as coisas possam melhorar.”, conclui Maluf que também cita os índices de desemprego e diminuição da renda média doo brasileiro e o benefício social [Auxílio Brasil] menor do que em 2020 [quando chegou a R$ 600 mensais].