Braga Netto buscou articular R$100 mil para pagamento dos “kids pretos”, membros de elite das Forças Armadas

General Braga Netto. Foto: Alexandre Manfrim / Igor Soares / Ministério da Defesa

A Polícia Federal do Brasil está atualmente conduzindo uma investigação de alto nível sobre o general da reserva Walter Braga Netto, em meio a alegações de um suposto plano para impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, após as eleições de 2022.

Documentos examinados pela Reuters indicam que Braga Netto teria desempenhado um papel ativo na preparação e alojamento de militares com treinamento de forças especiais, como parte de um esforço para uma possível intervenção, em meio a discussões no núcleo do governo Bolsonaro.

Segundo informações obtidas, a investigação sugere que o ex-ministro da Casa Civil teria tido uma participação ativa e decisiva na preparação para uma tentativa de golpe, agindo como um influenciador dentro do Exército. Fontes próximas ao caso afirmam que Braga Netto teria incentivado e influenciado outros comandantes do Exército, buscando meios para financiar a empreitada, inclusive discutindo formas de levantar os recursos necessários.

Uma reunião realizada na residência de Braga Netto, pouco depois do segundo turno das eleições presidenciais de outubro de 2022, é destacada como um dos eventos-chave na investigação.

Nessa reunião, diversos militares de segundo escalão teriam discutido a possibilidade de enviar clandestinamente homens com treinamento de forças especiais para Brasília, Rio de Janeiro e Goiás, visando uma preparação para um possível evento que justificasse a decretação de um estado de sítio ou de defesa.

De acordo com a investigação, os participantes do encontro na casa do general chegaram à necessidade de um orçamento de cerca de 100 mil reais para transporte, hotel e material, visando trazer à capital federal os militares treinados, conhecidos como “kids pretos”. Estes são homens do Exército especializados em operações especiais e considerados uma elite de combate.

O major Rafael Martins Oliveira, membro das forças especiais, teria sido designado para coordenar a captação dos recursos e organizar manifestações contra o Supremo Tribunal Federal e o Congresso, além de coordenar a vinda dos militares treinados para Brasília. Mensagens encontradas nos celulares dos investigados sugerem uma colaboração entre Oliveira e o coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, para angariar os fundos necessários.

Além do envolvimento na preparação logística, Braga Netto também teria desempenhado um papel político e nas redes sociais bolsonaristas, incentivando a divulgação de mensagens contra os então comandantes do Exército e da Aeronáutica, que se recusaram a apoiar a tentativa de golpe.