É a maior alta percentual num mandato presidencial desde o início das medições por satélite, em 1988

Herança maldita: gestão de Bolsonaro trouxe danos inestimáveis à Amazônia (Vinicius Mendonça/Ibama)

Com o novo relatório divulgado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) fica comprovado que a gestão de Bolsonaro trouxe danos inestimáveis às florestas. Nesta quarta-feira (30) o instituto anunciou a estimativa para o ano de 2022: 11.568 km² devastados, área equivalente à da Jamaica.

Ao comentar os dados, o Observatório do Clima destaca que apesar da queda de 11% em relação a 2021, há 13 anos não era registrada uma taxa tão alta nos nove Estados da Amazônia Legal. A média anual sob Bolsonaro foi de 11.396 km2, contra 7.145 km2 no período anterior (2015-2018).

Esse cenário devastador resulta da política anti-meio ambiente de retrocessos que anistiou desmatadores ao tempo em que enfraqueceu a fiscalização e controle, sucateando órgãos ambientais. Segundo o observatório, o governo de Jair Bolsonaro termina com um aumento de 59,5% da taxa de desmatamento na Amazônia em relação aos quatro anos anteriores (governos Dilma e Temer).

“É a maior alta percentual num mandato presidencial desde o início das medições por satélite, em 1988. Bolsonaro superou até mesmo o aumento visto no primeiro governo FHC, quando o forte aquecimento da economia no início do Plano Real causou o maior desmatamento da série histórica, de 29 mil km2, em 1995”, destaca o Observatório do Clima.

O secretário-executivo da rede formada por grandes organizações ambientalistas brasileiras disse que “o regime Bolsonaro foi uma máquina de destruir florestas. Pegou o país com uma taxa de 7.500 km2 de desmatamento na Amazônia e o está entregando com 11.500 km2. A única boa notíca do governo atual é o seu fim”, afirma Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.

O dado do Inpe está pronto desde 3 de novembro, antes do início da COP27, a conferência do clima de Sharm El-Sheikh, no Egito. O governo, porém, optou por escondê-lo por três semanas. É o segundo ano consecutivo em que o ministro do Meio Ambiente vai à conferência do clima com os dados e deixa para divulgá-los depois.

Os dados de 2022 revelam uma explosão do desmatamento no Amazonas, o único a ter aumento no corte raso neste ano. Foram derrubados 2.607 km2, um incremento de 13% em relação a 2021. O Pará, mesmo com a redução de 21%, ainda lidera o ranking, com 4.141 km2 desmatados em 2022.

Além da inação do Ibama, o aumento do corte raso no Amazonas é explicado pela expectativa de asfaltamento da BR-319 (Manaus-Porto Velho), rodovia que corta o maior bloco de florestas intactas da Amazônia. Em julho, o governo Bolsonaro concedeu licença prévia para a obra, atropelando pareceres de técnicos do próprio Ibama.

A tendência atual no Amazonas, caso nada seja feito, é que se repita no eixo da BR-319 a tragédia ocorrida no entorno da BR-163 (Cuiabá-Santarém), no Pará, que se transformou no epicentro do desmatamento no começo do século, após o anúncio de sua pavimentação.

A taxa divulgada nesta quarta-feira é do sistema Prodes, que calcula o dado oficial de desmatamento a cada 12 meses (medidos sempre de agosto de um ano a julho do ano seguinte).

(Com Observatório do Clima)