Foto: Ronnca

“Toda vez que eu fui pra cadeia, eu fui algemado. Hoje, tô indo lá porque eu quero e não tem algema nenhuma. Tô indo de cabeça erguida, num tô entrando em nenhuma viatura. Isso, pra mim, é ressignificar, é renascer”. Marcelo, aka Nego Bala, é cantor de funk e foi criado na região da Boca do Lixo, hoje conhecida como Cracolândia, em São Paulo. Pedia dinheiro e comida nas ruas e com 12 anos viveu sua primeira detenção. Ali, na antiga Febem, conheceu a música e as aulas de percussão, e descobriu que podia falar de sua vida, do que sentia e lutar por sua sobrevivência e hoje, com 22 anos, tem dois singles lançados.

O trecho que abre esse texto é a fala que inicia o videoclipe “Cifrão In’Pé”, gravado na Penitenciária Desembargador Adriano Marrey Guarulhos 2. Nego Bala prepara seu disco de estréia para 2020, lança um mini-doc e assina com o Coala.Lab, núcleo de música e projetos do Coala Festival. Nego Bala também é a primeira atração anunciada do festival, que está em sua sétima edição e acontece nos dias 12 e 13 de setembro no Memorial da América Latina, na capital paulista.

“O objetivo com esse documentário é dar auto-estima à comunidade e mostrar que a nossa história é ouro. Significa resiliência, empoderamento, resistência, unidade na diversidade”, diz Nego Bala. Ele define o registro audiovisual como um trabalho “da gente pra gente”. Ou seja, não é a tentativa externa de mostrar a Cracolândia e o seu entorno, mas, sim, o olhar de quem teve a sua vivência ali. “Uma frase que resume muito bem o doc é: ‘Boca do lixo: onde o ódio existe e o amor resiste’”, define o artista.

Confira Da Boca do Lixo