Foto: João Paulo Guimarães / Mídia NINJA

Por João Paulo Guimarães para Mídia NINJA.

“Não há leitos de UTI disponíveis nem da rede municipal nem na estadual em Belém”, assim informou o prefeito de Belém Zenaldo Coutinho na sexta-feira do dia 22 de maio. Esse informe preocupante vem junto com a notícia de que o plano de reabertura do comércio não essencial vai se manter.

“Não podemos esperar para iniciar essa abertura, porque há muitas pessoas passando fome. A situação está dramática para muitas famílias” e “Temos que apostar no otimismo”, essas foram outras frases ditas por Zenaldo.

E dessa forma, apostando com as vidas dos paraenses, a Prefeitura Municipal de Belém e o Governo do Estado iniciam uma campanha de isolamento vertical onde apenas os grupos de risco devem adotar a quarentena para que o comércio não essencial possa funcionar. Uma iniciativa sugerida pelo Governo Federal e criticada violentamente no Brasil por profissionais da saúde e pesquisadores do mundo todo.

O isolamento vertical faz parte de uma estratégia concomitante com a imunidade de rebanho onde parte da população se contagia para logo depois atingir a recuperação e assim, voltar ao trabalho movimentando a economia.

Até a sexta feira dia 22 o Pará tinha 22.697 casos da doença e mais de 2000 mortos pela Covid-19.

Em entrevista recente para Leda Nagle o ex ministroda saúde Luís Henrique Mandetta afirmou: “Se você me perguntar hoje quem é que tá com o maior problema, é o Pará. O Pará vai ser o epicentro, vai deslocar de Manaus e vai cair no Pará, em Belém. Ela tá com a curva dela só que sobe. Nas próximas duas, três semanas, ela vai sofrer muito. O sistema já tá começando a fase de colapso, ela vai atravessar o mês de junho colapsada. Então falar em atividade econômica em Belém é, assim uma, ninguém vai, as pessoas vão conhecer pessoas, vizinhos, que morreram. Não vai rolar”
Misteriosamente, três dias depois, Mandetta mudou de ideia.

A convite da empresa Think Tank Communitas, o ex ministro veio à Belém do Pará para uma análise da situação junto ao Governador Helder Barbalho e chegou à conclusão, em uma velocidade recorde, que Belém já passou pelo pico da doença. Seguindo esses dois fatos em datas, no dia 15 de maio na sexta feira Mandetta faz uma análise assustadora para os paraenses, mas na segunda feira dia 18 de maio, 3 dias após a previsão catastrófica, o médico e ex ministro da saúde muda de ideia e diz que o Pará já passou pelo pior.

“Já tem mais de 390 leitos que foram expandidos dentro do SUS (Sistema Único de Saúde). Parece que Belém foi a cidade mais atingida, mas conseguiu contornar, isso com uma boa dose de sacrifício da sociedade, de fazer a diminuição da mobilidade para diminuir a transmissão. Parece que tá agora em um ‘platô’ com tendência de queda”.

A partir daí foi iniciado o projeto para retorno de serviços não essenciais assim como o isolamento vertical. A linguagem da Sespa quanto à forma de anunciar os números também mudou, dando a entender que houve diminuição nos casos, tanto de contágios quanto o de óbitos. O número de recuperados ganhou ênfase e a secretaria de saúde passou a explicar separadamente os números de subnotificações de contágios e óbitos.

Governo mudou estratégia de comunicação para ressaltar número de recuperados. Foto: Marcos Santos / Agência Pará

A estratégia de tranquilizar a população após o lock down só tem ganho força agora com a notícia de que mais de 300.000 comprimidos de cloroquina, hidroxicloroquina e azitromicina serão distribuídos pelos 30 municípios do interior do Estado do Pará. A informação oficial veio da Sespa na última sexta feira dia 22 de maio.

O uso indiscriminado desses medicamentos a pedido de pacientes, que clamam por uma espécie de Fan Service farmacêutico, fez com que em alguns locais do estado do Pará, grupos de médicos na frente de batalha contra o Covid-19 se blidassem com notas e cartas abertas alertando para a necessidade de avaliação individual quanto à prescrição desses medicamentos assim como os riscos na medicação sem o devido cuidado caso a caso como aconteceu em Santarém onde uma carta aberta cita explicitamente o fato de que há possibilidade desses medicamentos aumentarem a mortalidade da doença e causar outras complicações. A carta aberta foi assinada por seis médicos e deixa claro que não há medicamento específico para tratamento da Covid-19.

Um fato curioso e que não ficou claro, na “visita” de Mandetta à Belém, é se ele legitimou a eficácia dos medicamentos citados já que em diversas ocasiões anteriores ele foi categórico contra a utilização dos medicamentos por risco de infarto, inclusive se negando a assinar decreto elaborado pelo Governo Federal que liberava o uso e prescrição.

“Se acordar com arritmia, dor no peito e infartar você (paciente) vai para o hospital tratar esse infarto e essa cloroquina”.

“Vamos fazer pela ciência, ciência. Não vamos perder o foco: ciência, disciplina, planejamento, foco. Não perca. Esses barulhos que vêm ao lado, fulano falou isso, beltrano falou aquilo, esquece, eles estão aqui do lado.”

“Para o ministério da saúde assinar que recomenda que se tome essa medida (uso da cloroquina para todos os casos), nós precisamos de mais tempo para saber se isso pode se configurar em uma coisa boa ou se pode ter efeito colateral. Não é questão de gostar mais de A ou de B, é simplesmente analisar com um pouco mais de luz e com base na ciência”

Essas foram algumas de suas declarações antes de estar em Belém.

Recentemente um estudo feito em 6 continentes com 96.000 pessoas em 671 hospitais revelou que os pacientes que utilizaram hidroxicloroquina e cloroquina no tratamento para Covid-19 tiveram maior risco de morte do que os pacientes que não usaram os medicamentos. Os dados foram obtidos entre Dezembro de 2019 e abril de 2020. Todos os pacientes tiveram alta ou morreram até o dia 21 de abril deste ano. 11% desses pacientes morreram.