Em uma reviravolta histórica, a presidente do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros, emitiu um pedido formal de desculpas ao povo negro brasileiro pelo papel desempenhado pela instituição durante o período da escravidão. A declaração foi divulgada em resposta a uma investigação conduzida pelo Ministério Público Federal (MPF), que examina o envolvimento do banco com o tráfico e traficantes de pessoas escravizadas no século 19.

“Toda a sociedade brasileira deveria pedir desculpas ao povo negro por algum tipo de participação naquele momento triste da história. Nesse contexto, o Banco do Brasil de hoje pede perdão ao povo negro pelas suas versões predecessoras e trabalha intensamente para enfrentar o racismo estrutural no país”, afirmou Tarciana Medeiros, que é a primeira mulher negra a presidir a entidade.

A investigação do MPF surgiu a partir de uma demanda de pesquisadores que apontaram para um vínculo mais profundo do que se imaginava entre o banco e os recursos provenientes do tráfico de africanos escravizados, especialmente após a refundação do banco em 1853, após a abolição do tráfico negreiro no Brasil pela Lei Eusébio de Queirós.

O MPF destacou a relação de “mão dupla” do banco com a economia escravagista da época, enfatizando a presença significativa de pessoas ligadas ao comércio clandestino de africanos e à escravidão no comando da instituição.

O procurador Julio José Araujo Junior, que atua no caso, elogiou a ação do banco, considerando-a um passo importante no reconhecimento da responsabilidade histórica. “Vamos analisar com calma as ações; certamente, esse tema vai entrar de vez na ordem do dia”, afirmou.

Uma audiência pública realizada pelo MPF no Rio de Janeiro discutiu o caso, e o pronunciamento do Banco do Brasil foi lido no evento, que ocorreu na quadra da escola de samba Portela.

Reparação

Em sua nota de desculpas, o Banco do Brasil ressaltou suas ações em prol da diversidade, incluindo cláusulas de fomento à diversidade em contratos com fornecedores, workshops e prêmios nesta mesma área. Destacou ainda a criação iminente de um edital de empoderamento socioeconômico de mulheres negras, com lançamento previsto para novembro.

Em resposta ao pedido de desculpas do Banco do Brasil, a Uneafro, organização do movimento negro, divulgou uma nota prometendo a construção de uma campanha nacional por reparações, indicando que a ação do banco seria apenas o primeiro passo. “Precisamos buscar reparação também de outras instituições financeiras, empresas seculares e famílias que têm suas riquezas relacionadas à escravidão”, afirmou a entidade.

*Com informações da BBC

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