O webprograma Narrativas de Brasis é um desdobramento do livro Tropifagia: comendo o país tropical (Edufba, 2020, 337p.) e está no ar na TV Ninja – no Youtube

Divulgação / Narrativas de Brasis

No terceiro episódio do Narrativas de Brasis, o debate dos apresentadores Thiago Pondé e Aline Carvalho com as convidadas e convidados gira em torno de como se constituiu o poder e o Estado no Brasil – e suas implicações conjunturais em instituições e na política brasileira. Com a participação do ator e apresentador Gregório Duvivier, do teólogo e escritor Leonardo Boff, da pedagoga e ialorixá Thiffany Odara, da atriz do corpo Laís Machado, do professor de história e então vereador pelo PSOL Tarcisio Motta, e do artista visual Heberth Sobral, Bananas Podres Poderes adentra as complexidades de fatos históricos como a Independência e a Proclamação da República, a relação espúria entre estado e mercado, a pandemia do novo coronavírus (e o contexto de saúde pública), e a dificuldade de inserção de pessoas trans no ensino público superior no Brasil.

Gregório Duvivier aponta uma inflexão na maneira como a Independência do país se deu: a partir de Pedro 1, filho do Rei de Portugal Dom João VI, que se tornou imperador após esse fato histórico. Para Duvivier, esse acontecimento revela como a colonização no Brasil se estendeu na estrutura de poder do país – presente inclusive no modo pelo qual a relação de subserviência econômica entre colônia e metrópole se estabeleceu desde o início, a exemplo do quinto de imposto pago na extração de ouro em território brasileiro, conforme fala do ator. No caso da Proclamação da República, foi um pacto entre generais e a elite cafeeira do país que culminou na derrubada da Monarquia. “O Brasil nunca teve um governo anti-colonial”, afirma Duvivier.

Gregório Duvivier / Divulgação / Narrativas de Brasis

Leonardo Boff em sua fala salienta que o contrato social no Brasil nunca levou em consideração o povo, sendo sempre resultado de negociatas entre as elites nacionais com base em seus interesses econômicos. Em outra de suas considerações, dessa vez sobre a pandemia, Boff afirma que a desigualdade social no país tem se aprofundado de maneira dramática, e que, diante das atitudes negacionistas do governo federal – e do avanço do neoliberalismo radical -, ações de distribuição de alimentos orgânicos como a realizada pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, durante a pandemia, são importantes iniciativas solidárias para minorar os impactos da fome e da miséria nas populações mais vulneráveis.

Tarcísio Motta contextualiza o golpe parlamentar de 2016 e como ele atendeu interesses de especuladores e do capital, a fim de pautar  reformas neoliberais mais agressivas. Para Motta, esse é o contexto histórico no qual o bolsonarismo emerge como alternativa. Entretanto, por conta da pandemia, os planos de enxugamento do estado brasileiro acabaram sendo dificultados, já que só políticas públicas e emergenciais conseguem de fato minorar os danos sociais e econômicos decorrentes dessa grave situação de saúde pública.

Leonardo Boff / Divulgação / Narrativas de Brasis

Laís Machado questiona a Proclamação da República no Brasil e como o projeto de nação brasileira nunca levou realmente em conta a população negra do país. “Nesse projeto de nação, eu sou a degeneração”, salienta a artista do corpo, ao apontar que projetos eugenistas tiveram forte influência na ideia de nação constituída em torno do século 19, inclusive com políticas que incentivaram o embranquecimento da sociedade brasileira. Machado também apontou a importância da vacina do novo coronavírus e, como percebeu que a humanidade tem aprendido pouco com a pandemia, principalmente ao discutir vacinas sempre aliadas a patentes, o que dificulta negociações e faz com que países do eixo sul demorem mais tempo para imunizar suas populações.

O episódio lança ainda o livro “Pedagogia da Desobediência – Travestilizando a educação” (Editora Devires, 2020), de Thiffany Odara. A autora conta um pouco sobre sua trajetória escolar e acadêmica e as dificuldades de inserção no ensino formal enquanto mulher trans. Referenciando nomes como Conceição Evaristo, Glória Anzaldúa, e Paulo Freire, Odara explica que a pedagogia da desobediência é uma iniciativa de questionamento ao “cistema”, e que a educação brasileira ainda é fruto de um projeto colonial arraigado no país. A ialorixá, liderança comunitária na cidade de Lauro de Freitas, aponta também o aprofundamento da desigualdade social no contexto da pandemia do novo coronavírus.

Lançamento do livro “Pedagogia da desobediência”

O episódio é costurado por imagens da série “Cotidiano”, do artista visual Heberth Sobral, que também fez parte da Cena Tropifágica (2011-2017).

Ao fim, as convidadas e convidados respondem à provocação central do programa: “O que é o Brasil pra você?”

Para assistir, acesse na TV NINJA: Narrativas de Brasis: Bananas Podres Poderes| Episódio 3 – YouTube

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