Campanha nacional atinge apenas 21,6% do público-alvo a pouco mais de uma semana do fim. Pandemia, fake news e movimentos antivacinas estão entre os motivos para a baixa procura

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Por Mauro Utida

A pouco mais de uma semana para o fim da Campanha Nacional de Vacinação Contra a Poliomielite, mais de 11,2 milhões de crianças ainda não receberam a vacina contra a doença que também é conhecida como paralisia infantil. Até esta terça-feira (30), houve cerca de 3,1 milhões de aplicações, conforme informações do Ministério da Saúde. Este número representa apenas 21,6% do público-alvo.

A Campanha Nacional iniciou no dia 8 de agosto e a mobilização segue até o próximo dia 9 de setembro. Segundo o ministério, o objetivo é vacinar cerca de 14,3 milhões de crianças, incluindo a atualização da caderneta vacinal de crianças e adolescentes menores de 15 anos, não vacinados ou com esquemas vacinais incompletos.

Mariana Varella, editora-chefe do Portal Drauzio Varella. Foto: Arquivo Pessoal

Segundo a jornalista Mariana Varella, editora-chefe do Portal Drauzio Varella, entre os motivos para a baixa procura estão a falta de campanhas mais intensas do governo federal e estaduais. Ela também diz que o horário de funcionamento dos postos de saúde dificultam para os pais que trabalham de levar os filhos, além da baixa percepção de risco diante do longo período sem casos da doença.

Outro problema agravante destacado pela filha do médico Drauzio Varella são as fake news sobre insegurança ou ineficácia dos imunizantes que ganharam força durante a pandemia da covid-19, além do próprio surto do novo coronavírus que prejudicou a imunização de diversas outras doenças.

Doença ameaça voltar

A poliomielite é uma doença grave e está erradicada do Brasil desde 1990. No entanto, a cobertura vacinal contra a doença tem caído e especialistas alertam para os riscos da volta da doença no país. Também há registro de novos casos no exterior, incluindo países como Estados Unidos e Israel.

O continente africano, que também havia erradicado a pólio, voltou a apresentar casos da doença no início deste ano, no Malawi. O país viveu um surto da doença, que recentemente atingiu Moçambique. “Os casos servem de alerta ao Brasil”, alerta a filha de Drauzio Varella.

Conforme informações do Ministério da Saúde, a cobertura vacinal da poliomielite vem caindo significativamente. Em 2015, o Brasil vacinou 98,3% do público-alvo, taxa que caiu para 84,2% em 2019, 76,2% em 2020. No ano passado, a cobertura com as três doses iniciais da vacina foi de 69,9%; com as doses de reforço, 59,9%. (Confira a tabela abaixo).

Segundo Mariana Varella, desde 2015, o Brasil enfrenta uma queda na cobertura vacinal de todas as doenças para as quais existem vacinas. Ela lembra que por conta disso, o Brasil perdeu o certificado de erradicação do sarampo, concedido ao país em 2016 pela OMS (Organização Mundial da Saúde), depois de voltar a apresentar casos da doença. Em 2019, no primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro, o país perdeu o status, depois de mais de 12 meses de incidência de casos confirmados do mesmo vírus. “Só nos dois primeiros meses de 2022, foram mais de 17 mil casos notificados, o que revela o risco de vivermos uma epidemia do sarampo”, alerta.

“Especialistas vêm alertando para a ameaça de vivermos situação semelhante em relação a outras doenças já controladas, além da poliomielite, também há riscos com a difteria e a rubéola”, alerta Mariana.

Sobre a poliomielite

A poliomielite é uma doença contagiosa causada por um vírus chamado poliovírus que tem três sorotipos (1, 2 e 3) e cuja transmissão se dá por via oral-fecal (contato da boca com fezes contaminadas) ou oral-oral, por meio de gotículas expelidas ao falar, tossir ou espirrar.

Em geral, pode ou não causar paralisia infantil, e costuma atingir crianças menores de 4 anos, embora também possa acometer adultos.

A maior parte das infecções provoca nenhum ou poucos sintomas, semelhantes aos de uma infecção respiratória como a gripe. No entanto, cerca de 1% dos pacientes podem desenvolver a forma paralítica da doença, quando o vírus atinge os neurônios motores e pode deixar sequelas permanentes.

Além disso, a doença pode causar a síndrome pós-pólio, uma desordem neurológica que acomete pessoas infectadas cerca de 15 anos depois de terem sido contaminadas pelo vírus. O quadro não é provocado pela reativação do vírus, mas pelo desgaste proveniente da utilização excessiva dos neurônios motores próximos daqueles destruídos pelo poliovírus.

Nota do Ministério da Saúde

O Ministério da Saúde destaca que a Campanha Nacional de Poliomielite termina no dia 9 de setembro, no entanto, a vacinação continuará em todo o país normalmente. “A campanha é um momento de mobilização. As vacinas ficam disponíveis durante o ano todo normalmente. Eles fazem parte do calendário de vacinal de rotina”, informou.

A pasta recomenda ainda aos estados, municípios e Distrito Federal que realizem a busca ativa para a imunização e reforça a importância da manutenção das ações de vacinação de rotina. “A divulgação de informações sobre a segurança e a efetividade das vacinas como medida de saúde pública também fazem parte de ações realizadas durante todo o ano”.

Saiba mais sobre a doença no site de Drauzio Varella.