Foto: Tânia Rego/ Agência Brasil

Por Maria Vitória de Moura

Estudo produzido pela Kantar, empresa de dados, insights e consultoria, analisou que a crise econômica e a alta no preço dos alimentos fizeram brasileiros piorarem seus hábitos de alimentação fora de casa, trocando refeições completas por salgadinhos ultraprocessados e salgados prontos, como coxinhas e esfihas.

“O consumidor, quando está na rua, vem diminuindo sua frequência de compra de pratos [refeições], afetando consequentemente o volume desse tipo de consumo. Quando esse consumo cai, ele acaba aumentando sua frequência de compra e consumo de salgados”, afirma Hudson Romano, gerente sênior de consumo fora do lar da Kantar.

Em 2022, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA),  usado para observar tendências de inflação no país, fechou o ano com alta de 5,8%, sendo que o grupo de alimentação e bebidas respondeu por quase metade desse resultado. Frutas e tubérculos, raízes e legumes fecharam o ano com alta expressiva de preços, 24% e 40,2%, respectivamente.

A população mais pobre é a mais afetada pela alta do preço de alimentos in natura e minimamente processados. Entre 2019 e 2022, o consumo de salgadinhos ultraprocessados entre os que se alimentam fora de casa aumentou 35,7% entre as classes D e E. O que impacta diretamente na saúde dos brasileiros, uma vez que os ultraprocessados estão diretamente ligados ao desenvolvimento de doenças crônicas, como diabetes, hipertensão e outras doenças cardiovasculares. 

Segundo o novo relatório das Nações Unidas sobre segurança alimentar e nutricional, publicado em janeiro deste ano, a América Latina e Caribe têm o maior custo em alimentação saudável do mundo. Apesar de 11% das terras destinadas ao plantio orgânico estarem na região, o consumo de ultraprocessados entre os latinoamericanos cresceu mais de 50% nos últimos 20 anos.

Enquanto os alimentos saudáveis estão ficando cada vez mais caros, os ultraprocessados ficam ainda mais baratos, devido a uma infinidade de fatores, mas principalmente pelos incentivos fiscais, o que fomenta o seu consumo e pode levar a uma alta ainda mais expressiva para 2024, avalia a pesquisadora do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da USP, Ana Paula Bortoletto. 

A pesquisa feita pela Kantar avaliou, ainda, que o consumo de “snacks” ultraprocessados como opção de café da manhã e lanche da tarde cresceu 89% entre 2019 e 2022. Enquanto isso, o consumo de refeições completas diminuiu 61%. Nesse mesmo período, os salgados prontos, que eram preferência de 11% do total de entrevistados em 2019, passaram a ser prioritários para 15% da população geral em 2022.