Foto: Universal; Warner Bros

Por Amanda Cristina Passos da Silva

Se eu te perguntasse o que um filme sobre uma boneca aprendendo a ser humana e um filme sobre a criação da bomba atômica tem a ver um com o outro, o que você me responderia?

Bom, presumo eu que em circunstâncias normais, a resposta mais dada seria “nada!”. E realmente, falando assim por cima, dois filmes nesses moldes, jamais seriam citados em conjunto.

Mas é como minha mãe sempre me disse: “Tudo de mais estranho já aconteceu pelo menos uma vez na Bahia”, ou nesse caso, no cinema. Barbie e Oppenheimer estrearam juntos em uma quinta, no dia 20 de julho de 2023 no Brasil e foram um sucesso estrondoso, a maior bilheteria dos últimos quatro anos segundo dados da Variety.

O grande lucro se deve ao fato de que parte do público que ia assistir a um dos filmes comprava ingresso para ver o outro logo em seguida, de acordo com o levantamento da Ingresso.com, 30% dos clientes que compraram o ingresso para Oppenheimer na pré-venda também compraram um para Barbie. Desses clientes, 58% assistiram ambos no mesmo dia e 26% assistiram um deles no dia seguinte.

O sucesso dos filmes foi ótimo para o cinema no geral, foi o primeiro grande “boom” de audiência desde o início da pandemia, mas uma pergunta ainda paira pelo ar, como isso aconteceu? Como esses dois filmes tão opostos que compartilham apenas a data de estreia criaram essa relação simbiótica?  

A rixa entre estúdios já era esperada, negócios são negócios, todo mundo quer ganhar mais que o coleguinha no final do dia, o que eles não esperavam era que a rivalidade entre eles não alcançasse o público nas redes sociais.

Os internautas criaram memes, artes, até mesmo um dress code para assistir aos filmes no cinema (Barbie de rosa, Oppenheimer de preto). O engajamento foi tão grande que as próprias empresas tiveram de deixar sua disputa de lado e se unir nas divulgações, compartilhando tweets mencionando suas obras, era o nascimento de Barbenheimer.

Toda essa situação deixou bem claro o grande poder da internet, que facilitou as interações e compartilhamentos massivos por parte do público, criando e alimentando o hype em torno de ambos os filmes, despertando nas pessoas aquela velha mística de ir ao cinema, se arrumar para ver um filme e curtir com desconhecidos algo que vocês esperam a muito tempo.

Barbenheimer é um fenômeno nascido da saudade de consumir cinema, ser arrebatado e entretido por ele, depois dos tempos sombrios da pandemia, ver o cinema lotado de gente vestida à caráter, tirando foto do lado de poster com bombas atômicas e dentro de uma caixa de boneca aqueceu meu coração.

A tendência é que esse mesmo acontecimento se repita e, cá entre nós, eu acharia ótimo ficar em uma fila lotada disputando espaço com meio mundo de gente para entrar no cinema e chorar com uma boneca descobrindo o que é um ginecologista. Para mim essas experiências só podem ser definidas com uma singela frase de Martin Scorsese: “This is Cinema”.

Texto produzido em cobertura colaborativa da Cine NINJA – Especial Oscar 2024