A dupla falou à Cine NINJA sobre a sensação em ter o trabalho reconhecido por um dos eventos mais importantes de cinema do Brasil

Ary Rosa e Glenda Nicácio concedem entrevista à Cine NINJA. Foto: Ana Pessoa

Por Sérgio Madruga

Em todas as edições da Mostra de Cinema de Tiradentes, artistas e realizadores são homenageados por suas obras e contribuições na construção do audiovisual brasileiro. Neste ano, os grandes homenageados são os cineastas Ary Rosa e Glenda Nicácio, mineiros de nascença e baianos de coração. Criadores da produtora Rosza Filmes, os diretores lançaram entre 2017 e 2022, seis longas-metragens que ganham cada vez mais destaque na cena, catapultando a dupla a um lugar de destaque e referência.

Presentes na Mostra Homenagem, os filmes “Café com Canela” (2017), “Ilha” (2018), “Até o Fim” (2020), “Voltei” (2021), “Mugunzá” (2022) e o mais recente, “Na Rédea Curta” (2022), estão sendo exibidos ao longo do evento, tanto presencialmente quanto online. Quatro deles já fizeram parte da programação da Mostra de Tiradentes, com exceção de “Mugunzá” e “Na Rédea Curta”, que fazem sua estreia na edição deste ano.

Ary é de Pouso Alegre, já Glenda, de Poços de Caldas. Coincidência ou não, os mineiros foram se conhecer no Recôncavo Baiano, em 2010, quando foram cursar Cinema na Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB). O encontro trouxe muita potência na carreira da dupla, a criação da Rosza Filmes agitou a produção cinematográfica do Recôncavo, e em um esquema de “Cinema Mutirão” – fazendo referência ao tema da 26ª Mostra -, mobilizaram diversos profissionais na criação dos longas que temos conhecimento.

“Quando ‘Café com Canela’ estreia em 2017, o impacto é grande, ainda que (quase) discreto na sua crônica sobre um grupo de pessoas de uma mesma localidade. Impressiona como Glenda Nicácio e Ary Rosa conduziram um retrato coletivo com um intransigente prazer, o que soou para alguns desatentos como aparente displicência. Havia ali um filme com adesão irrestrita à ficção, um exercício raro de uma fabulação que investia ao mesmo tempo na fabulação via relato de atrizes e atores, na prosódia que deixava claro a força não dissimulada do texto escrito (e um momento que o efeito do documentário e a rarefação causava sensação na ficção), uma visualidade espacial que misturava cenários internos estilizados e locações reais das cidades de Cachoeira e São Felix, uma câmera que procurava os pontos de vista mais inusuais e uma montagem que investia no lúdico, sem receio da emoção”, escreveu Francis Vogner dos Reis, coordenador curatorial, na apresentação da Mostra Homenagem.

Ary Rosa e Glenda Nicácio, homenageados na abertura da 26ª Mostra de Tiradentes. Foto: Ana Pessoa

Ary e Glenda foram homenageados já na abertura da Mostra, que aconteceu na última sexta-feira (20). O longa de abertura foi “Mugunzá”, estrelado por Arlete Dias e Fabrício Boliveira. Em entrevista à Cine NINJA, a dupla de cineastas falou sobre a sensação em ter seu trabalho reconhecido no evento, além de ressaltar a importância das políticas públicas na construção do audiovisual brasileiro.

“Ser homenageado aqui para a gente é muito importante, porque é uma mostra muito cara para a gente”, afirmou Ary Rosa. “É uma mostra muito importante do cinema brasileiro e a gente inaugura o ano. Então poder começar o ano, especialmente quando a gente pode falar esperança, futuro, possibilidades, por mais difíceis que as coisas ainda estejam, é muito bom subir num palco e não precisar falar de desmando, de desmonte e de falta de políticas públicas”, completou.

“É um grande personagem nas nossas vidas e nos nossos filmes”, disse Glenda sobre o Recôncavo Baiano.

A cineasta destacou ainda a potencialidade do encontro envolvido em cada produção: “Nossos filmes querem falar sobre encontro e a cada encontro são questões diferentes que estão embasando e que estão envolvendo ali. O encontro que depende da época, do contexto político, do contexto histórico, que depende do nosso contexto também, enquanto comunidade, grupo, produtor, coletivo e mutirão”.

Ary encerrou o papo ressaltando a importância de políticas públicas no meio cultural, que resulta numa maior diversidade de narrativas artísticas: “Quando a gente tem o dinheiro concentrado num lugar, a gente tem uma concentração de ponto de vista. Então é muito importante que se descentralize o dinheiro, para que também a gente possa ouvir histórias de Cachoeira, de Tiradentes, do interior do Pará (…) E para quem está começando é fundamental, porque é muito difícil competir com quem já está na estrada, então acho que ter esse olhar para quem está começando é uma coisa muito importante”, afirmou.

Assista a entrevista na íntegra:

 

 
 
 
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