Foto: Mateus Bernardo

Por Marcelo Mucida, para @planetafoda*

Sensibilidade, memória e inquietação: de Recife, Afroito parte de uma narrativa regional para poder falar sobre sentimentos que são do mundo. A partir de composições que retratam experiências pessoais, a sua música tem conseguido romper barreiras e tocar pessoas de diferentes contextos sociais.

Com 27 anos, o artista já lançou 05 músicas, sendo uma em parceria com a banda A Banca 021, e caminha agora para a realização do seu primeiro álbum chamado “FLUIDO – circulante adentro, universo afora”. Para a editoria #ArtistaFOdA, ele falou sobre a sua vida na arte e os cruzamentos que surgem através das suas criações.

Brincante da cultura popular pernambucana, foi numa roda de coco que Afroito sentiu o impulso que o levaria a desenvolver a sua carreira na música. Ele conta que as práticas da cultura popular possuem mestres e mestras, que são as pessoas responsáveis pela condução da dança, das cantigas e do ritmo.

Foto: Divulgação

“Eu comecei a perceber que esse título de líder da brincadeira era passado apenas para pessoas heterossexuais e cisgênero. Você não vê pessoas LGBT liderando. E então me peguei pensando: por que esse corpo também não pode gerir a brincadeira? […] Infelizmente, ainda é criado um estranhamento quando uma pessoa de um demarcador específico ocupa um espaço de poder. Isso gera um impacto social que é gigante.”

E foi com esta provocação que ele compôs “Nunca Mais Eu Venho”, um coco de roda que teve uma boa repercussão com o público. Desde então, já se somam quatro anos de trabalho e, neste momento, tudo aponta para a concretização do seu primeiro álbum.

Sobre este assunto, ele conta que todas as canções já estão compostas e que elas refletem possibilidades de fluidos corporais imaginadas por ele. A obra parte de uma poética líquida para atravessar corpos com percursos diversos.

“É sobre algo para além do corpo. Algo que existe e que pode ser sentido.”

Foto: Meuja Gonzaga

Entendendo a potencialidade que o artista tem ao poder lançar um álbum, ele iniciou uma campanha de financiamento coletivo para garantir a autonomia e o protagonismo no desenvolvimento deste projeto. A campanha segue disponível até o dia 19 de dezembro (próximo sábado) e já alcançou mais de 54% da meta estabelecida. E tudo depende justamente desta arrecadação, já que ele só receberá o dinheiro se atingir o total definido previamente.

“Obará” é uma das músicas que integra o álbum, lançada como single em 2020. Desde setembro, a faixa já foi escutada mais de 50.000 vezes no Spotify. Com uma sonoridade envolvente, a música traz algumas das principais influências para as criações de Afroito: a afetividade e a sua vivência no candomblé. A música brega dos anos 2000 também é referência para o seu trabalho.

A relação com o candomblé vem desde a sua criação, já que foi adotado por uma família que tinha um terreiro em casa mas, no caso da sua obra, ele compartilha: “Eu penso que eu não estou falando apenas de uma religiosidade. Eu não pretendo falar especificamente sobre candomblé ou ancestralidade. Eu quero falar sobre existência. […] Eu não tento pautar a língua iorubá como dialeto possível para ser didático. É só o que eu senti e o que a minha mente entendeu como palavra naquele momento e foi colocado ali.”

Foto: Mateus Bernardo

Corpos em vulnerabilidade social, genocídio e experiências românticas são outros temas abordados no álbum. “Eu penso o corpo preto LGBT. Eu falo de afetividade como solidão. Mesmo quando eu falo de paixões correspondidas, eu estou contando da forma que eu gostaria que fosse. A solidão do corpo preto está super nítida nas músicas. E não tem como falar de afeto, sendo um homem negro, e não cair no lugar da solidão.”

A partir de uma abordagem pessoal, a sua música tem tudo para chegar a novos lugares, provocando sentimentos e levando também uma mistura de sons que compartilham um pouco de Pernambuco e que exploram este universo interno que é a mente criativa de Afroito.

Mais informações sobre a sua obra e sobre a campanha de financiamento coletivo estão disponíveis no Instagram: @afroito

Assista ao clipe de “Obará”:

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