Arte: Ju Angelino

Por Amanda Olbel, para @planetafoda

Esta seção #ArtistaFOdA da Mídia NINJA tem como intuito compartilhar artistas contemporâneos LGBTQIA+ que estejam ganhando visibilidade na cena, e a nossa entrevistada da semana é a artista plástica Juliana Angelino.

Juliana, 29 anos, é artista plástica e grafiteira insulana, selecionada no edital Fábrica de Graffiti para pintar o maior mural de graffiti do Brasil, em Barra Mansa. Moradora da comunidade do Dendê, é estudante de Belas Artes na UFRJ, com uma poética voltada para representar a realidade periférica, mostrando as nuances desse cotidiano, com muita sensibilidade, cor e poesia.

Ela conta que sua trajetória como artista e seu desejo pela expressão plástica vem desde criança, o que deu suporte para lidar com Mutismo Seletivo – um transtorno de ansiedade que se apresenta durante a infância – caracterizado pela dificuldade de um indivíduo se comunicar verbalmente em determinadas situações sociais. Diz ainda não ter tido grandes incentivos para o feito e que, ao contrário das orientações do sistema de ensino, continuou com desenhos, pinturas e inventando histórias como única forma de poder se expressar durante os anos em que sofreu da condição.

Formada pela Spectaculu – Escola de Arte e Tecnologia (ONG localizada no Cais do Porto – RJ) em 2014, passou a atuar nos bastidores de teatro, shows e audiovisual. Junto a isso, trabalhou em barracões de escola de samba, exercendo funções variadas, e foi através da cenografia e do grafite que se destacou na pintura. Teve algumas experiências no Rio Esporte Arte, projeto de muralismo no centro do Rio de Janeiro, onde atuou como assistente de grandes grafiteiros dentro e fora do projeto, participando também do evento Elephant Parade, e exposto no Galpão Bela Maré duas vezes. Recentemente participou do Fábrica de Graffiti, pintando o maior mural do Brasil, em Barra Mansa, no Rio de Janeiro e hoje busca voltar a explorar outras formas de arte para além da pintura.

Foto: Arquivo pessoal

A respeito de como enxerga a natureza de seu trabalho, em questão de conteúdo e técnica, assim como seu discurso através dele, Angelino conta que intuitivamente percebeu que suas obras voltavam sempre pra questões sociais e culturais do ambiente em que vive: Rio de Janeiro, subúrbio, zona norte, favela. Mas diz que isso não foi algo desenhado ou projetado por ela, tanto que está sempre experimentando diversos assuntos, como um exercício de descobrir seu próprio conceito.

“Sempre me interessei pela cultura/sociedade brasileira, principalmente voltada aqui pro Rio. Comportamento, formas de expressão…tem um termo que o filósofo Luiz Antônio Simas usa que é ‘cultura de frestas’, a cultura que nasce das frestas, das rachaduras do sistema. Pode colocar aí o funk, o samba, o Carnaval…não pensando em ritmo, mas em forma de vida mesmo, de sobrevivência da população suburbana, periférica.”

A artista diz que por não ver problema no fato de ser LGBTQIA+, não faz uso do conteúdo de sua sexualidade como assunto principal de suas pinturas, e sente que a desigualdade social e o racismo lhe causam mais revolta, se tornando foco de seu trabalho. “Um homossexual branco que mora no Leblon jamais vai sofrer a violência que sofre a bicha preta da favela, por exemplo. É disso que eu falo”.

Porém, sente que carrega “a força da mulher sapatona” como energia motriz para o ato da pintura. Em suas palavras, acredita que a arte é um mundo diverso e inclusivo, e isso tem total importância no seu suporte como artista LGBTQIA+. Particularmente, sempre pôs um vidro blindado em torno de sua sexualidade, justamente para deixar claro que nenhuma repressão que viesse de familiares ou conhecidos teria força pra desestabilizar a sua identidade: uma sapatão convicta, segura e inabalável!

Para aqueles que quiserem acompanhar seu trabalho, Juliana compartilha suas obras e processos através da página do instagram @juangelino.

Arte: Ju Angelino

Arte: Ju Angelino

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