“Presa por sobreviver”, Higui sofreu tentativa de estupro coletivo em 2016

Em 16 de outubro de 2016, a argentina Eva Analía De Jesús, mais conhecida como Higui, estava andando pela cidade de Bella Vista, província de Buenos Aires, quando um grupo de homens a atacou por causa de sua orientação sexual. Higui – que recebeu esse apelido porque era jogadora de futebol e tinha cachos como o colombiano René Higuita – disse à polícia e depois aos juízes que seus agressores a espancaram e tentaram estuprá-la.

“Vou fazer você se sentir uma mulher”, disse a ela Cristian Rubén Espósito, segundo seu relato.

Ela pegou uma faca e a enfiou no peito dele antes desmaiar. Quando recuperou a consciência, foi presa. Apesar do fato dela ter denunciado uma tentativa de estupro coletivo e ter sido encontrada inconsciente por policiais, com roupas rasgadas e vários espancamentos, suas alegações nunca foram investigadas. Ela foi acusada de assassinato e passou quase oito meses na prisão. Nesta quinta-feira um tribunal emitiu sua absolvição.

“Uma lésbica se defendeu, seu nome é Higui, e com a luta foi absolvida”. Dezenas de pessoas se reuniram em apoio a Higui ​​durante os três dias de julgamento em frente aos tribunais de San Martín. A rua virou uma grande festa.

A causa de Higui foi uma das bandeiras levantadas contra a lesbofobia na Argentina e uma das reivindicações mais ouvidas nas marchas realizadas na semana passada por ocasião do Dia da Visibilidade Lésbica (7 de março) e do Dia Internacional da Mulher (8 de março).

“Eu também me defenderia como Higui”. A frase pôde ser lida tanto nos arredores do tribunal como em inúmeras ruas de Buenos Aires.

Na terça-feira (15), Higui chegou ao tribunal com uma bola de futebol e agradeceu a todos que foram acompanhá-la no início do julgamento. Nesta quinta-feira (17), ela depôs por quase uma hora. “Eu realmente queria fazer isso. Eu me sinto melhor”, disse ao sair. Outras testemunhas já haviam denunciado, entre elas um dos agressores, que alegou que Higui havia esfaqueado Esposito pelas costas. O perito forense questionou essa versão afirmando que a facada mortal ocorreu pela frente.

Um dos principais depoimentos foi o de um policial que esteve no local dos fatos e na delegacia para a qual Higui foi transferida. “Aquele policial disse que ela foi muito espancada e que eles iam à cela de vez em quando para vê-la para que ela não tivesse convulsões ou para verificar se ela não estava quebrada. Isso é muito importante porque valida o relato de Higui”, disseram fontes judiciais citadas pela agência Télam.

Depois de passar oito meses na prisão, a grande mobilização social contribuiu para que o Tribunal de Apelações de San Martín lhe concedesse extradição extraordinária e Higui pudesse aguardar julgamento em liberdade. Nesta quinta-feira (17), ela foi absolvido.

Publicado originalmente em El País