(Bruno/Pixabay)

 

Em reportagem especial, a Repórter Brasil revela que parte dos filamentos de ouro usados em celulares e computadores das marcas Apple e Microsoft, além de superservidores do Google e Amazon saiu de garimpos ilegais na Amazônia. Até chegar nos dispositivos das quatro empresas, esse ouro passou pela mão de atravessadores e organizações, afirma a agência de investigação.

A reportagem obteve documentos que confirmam que essas potências da tecnologia compraram em 2020 e 2021, o metal de diversas refinadoras, entre elas, a italiana Chimet, que é investigada pela Polícia Federal por ser destino do minério extraído de garimpos clandestinos da Terra Indígena Kayapó, e a brasileira Marsam, cuja fornecedora é acusada pelo Ministério Público Federal de provocar danos ambientais por conta da aquisição de ouro ilegal.

Os documentos analisados, são aqueles que as empresas são legalmente obrigadas a enviar à Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (Securities and Exchange Commission, ou SEC, na sigla em inglês) com a lista de seus fornecedores, não apenas de ouro, mas também de estanho, tungstênio e tântalo. Todo o detalhamento do processo de certificação e também outras empresas envolvidas você confere na reportagem na íntegra (clique aqui).

Buscando ouvir as empresas, a reportagem relata que apenas a Apple tomou uma atitude ao ser questionada. “No primeiro contato, em maio, a empresa enviou uma nota dizendo que os seus ‘padrões de fornecimento responsável são os melhores do setor e proíbem estritamente o uso de minerais extraídos ilegalmente’ e que ‘se uma fundição ou refinadora não conseguir ou não quiser atender aos nossos padrões rígidos, nós o removeremos de nossa cadeia de fornecimento’. Dois meses depois desse primeiro contato, a reportagem voltou a procurar a Apple, que, afirmou em nota ter removido a Marsam da lista de fornecedores. A Chimet, no entanto, permanece apta.

Google, Microsoft e Amazon disseram que não comentariam, mas não negaram terem comprado da Chimet e da Marsam. Os e-mails enviados pela reportagem detalhavam os diversos danos socioambientais provocados pelo garimpo ilegal na Amazônia, bem como a investigação da Polícia Federal e dos procuradores da República.

Apesar do silêncio das três gigantes da tecnologia, os relatórios entregues ao governo estadunidense revelam as melhores intenções de sustentabilidade, transparência e responsabilidade socioambiental.

O coordenador da Amazon Watch, organização que também investiga o setor minerário, ressalta que apesar da dificuldade de rastreabilidade do minério, há pouca pressão por melhorias e maior transparência. Sobre as big techs, ele conclui: “Talvez seja hora de inverter o ônus da prova: essas empresas podem provar que não estão vinculadas a fluxos potencialmente ilegais de ouro do Brasil?”.