A prefeitura de São Paulo entregou a direção do Hospital Municipal de Vila Nova Cachoeirinha, na Zona Norte do estado, à ginecologista Marcia Tapigliani. A decisão acontece logo depois de a prefeitura decidir suspender o serviço de aborto legal do Hospital. Tapigliani é filiada ao PL de Jair Bolsonaro e do governador Tarcísio de Freitas, neoaliados do prefeito Ricardo Nunes, do MDB. Com um forte discurso antiaborto, ela candidatou-se a deputada estadual nas eleições de 2022, mas obteve apenas 8.505 votos.

“Não sei se já saiu a nomeação (no Diário Oficial). Essa troca na direção já estava sendo negociada desde novembro do ano passado”, confirmou o secretário municipal de saúde, Luiz Carlos Zamarco, à reportagem da CartaCapital. “Havia algumas denúncias contra o antigo diretor e tivemos que tirar ele de lá”, disse.

Após trocar a direção do hospital, a Secretaria de Saúde solicitou os prontuários médicos das pacientes que realizaram aborto na unidade entre 2021 e 2023, mesmo que os dados sejam sigilosos e só possam ser obtidos com autorização judicial. Ainda à Carta Capital, Zamarco alega que as fichas foram acessadas para uma investigação interna, destinada a apurar se os procedimentos realizados nos últimos anos estavam “de acordo com a lei”.

Em campanha para deputada estadual, a nova diretora do hospital apresentou-se ao eleitorado como uma “defensora da vida”. Em uma de suas peças publicitárias, Tapigliani argumenta que a vida começa “a partir da concepção”, algo que, segundo ela, seria “indiscutível para a ciência e a teologia”, e prossegue: “O PL é a favor da preservação da vida em qualquer estágio evolutivo que ela se encontre”.

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Mesmo fora no período eleitoral, Tapigliani mantém a militância antiaborto. Chegou a divulgar a foto de um recém-nascido em seu perfil na rede social Instagram, acompanhada da legenda: “Não há nada mais desumano do que ter sua vida arrancada, de ter o seu corpo destroçado impiedosamente enquanto ainda está vivo, sem ter como se defender”.