Ambas são candidatas à Câmara dos Deputados e o autor das ameaças exige que as parlamentares abandonem a vida pública, com comentários transfóbicos e retratando a varíola do macaco como “peste gay”

Natasha Ferreira e Erika Hilton, ambas do PSOL, acionaram o MPF contra mais um caso de homofobia de Bolsonaro. Foto: Divulgação

A vereadora de São Paulo Erika Hilton e a vereadora suplente de Porto Alegre e ativista pelos direitos das pessoas trans e travestis Natasha Ferreira, ambas do PSOL, procuraram a polícia para denunciar o recebimento de novas ameaças de morte por bolsonaristas, através de mensagens enviadas por e-mail anônimo.

As ameaças acontecem uma semana após as parlamentrares, que são lideranças do partido nas câmaras municipais das duas capitais, denunciarem o presidente da república, Jair Bolsonaro (PL), ao Ministério Público por homofobia após fala insinuando no Flow Podcast que a epidemia de varíola dos macacos é relacionada à homossexualidade.

Ambas são candidatas à Câmara dos Deputados e o autor das ameaças exige que as parlamentares abandonem a vida pública, com comentários transfóbicos e retratando a varíola do macaco como “peste gay”. As ameaças também foram enviadas por e-mail aos vereadores Matheus Gomes e Karen Santos, do PSOL-RS, e a outros parlamentares do partido em São Paulo, incluindo a deputada estadual Erica Malunguinho.

Os jornalistas do site Congresso em Foco, Lucas Neiva e Vanessa Lippelt, também são mencionados e ameaçados. Além disso, há citações sobre o ex-presidente Lula (PT) e o Supremo Tribunal Federal (STF).

Natasha Ferreira registrou boletim de ocorrência (BO) na Delegacia de Combate à Intolerância de Porto Alegre. “O objetivo é nos fazer desistir da disputa eleitoral e de ocupar a política sendo travestis. Não conseguirão”, relatou Natasha. “Não é a primeira vez que recebo ameaças e já denunciei anteriormente. Enfrentamos violência demais na vida, não vai ser uma ameaça que nos fará parar de lutar. Mas é importante que isso fique registrado: se você é LGBTI+, negro ou indígena no Brasil, seus direitos políticos são ameaçados pelo ódio e pelo rancor sem ações concretas do Estado para nos proteger”.

“O mundo inteiro está preocupado com a epidemia de monkeypox e está se mobilizando para encontrar políticas concretas de combate à doença. Infelizmente, o presidente do Brasil mais uma vez se coloca na contramão da lógica e da ciência, exatamente como foi com a covid-19”, afirma a vereadora Erika Hilton.

Bolsonaro é reincidente

Na denúncia apresentada, as vereadoras lembraram que Bolsonaro é reincidente em casos de homofobia e lembram que o Ministério Público já reconheceu ações discriminatórias dele. Em 2020, as vereadoras, juntamente com as deputadas Fernanda Melchionna, Luciana Genro e Sâmia Bomfim do PSOL, denunciaram Bolsonaro por ter feito piadas homofóbicas no Maranhão, ao afirmar que viraria homossexual por tomar um guaraná de cor rosa. A Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC), em movimento inédito, pela primeira vez na história se manifestou dizendo que um presidente cometeu crime de homofobia. Mesmo assim, o MPF resolveu arquivar a denúncia.