Anitta explicou aos fãs porque preferiu, em seu último show no Coachella, ignorar Bolsonaro e especificamente o nome do presidente e pré-candidato à presidência da República. Nas redes, a cantora se referia ao mandatário como Voldemort. “Quando tem alguém que eu não gosto ou não quero na minha vida eu não pronuncio o nome”, escreveu. As motivações, contudo, vão muito além de uma falta de simpatia com o presidente.

“A estratégia deles agora mudou”, respondeu Anitta a um seguidor que sugeriu colocar uma montagem de Bolsonaro como Hitler no próximo show. “Eles estão com uma equipe de redes sociais mais jovem e descolada para justamente passar essa imagem dele, fazer o público esquecer as merdas com piadas e memes da internet que faça o jovem achar que ele é um cara maneirão, boa praça”.

Logo após os protestos contra Bolsonaro que dominaram palco e plateia na edição brasileira do Lollapalooza, a página do presidente no Instagram fez publicações de propagandas do governo utilizando músicas de artistas com quem rivalizava, como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Daniela Mercury. Algumas leituras já sinalizavam para uma estratégia de Bolsonaro em capturar a onda dos artistas a favor dele. Fazendo menção a esse episódio, Anitta afirmou que percebeu ali a tática.

“Qualquer manifestação contra ele por meio dos artistas vai ser revertido em forma de deboche pelas mídias sociais dele”, disse a cantora. “Assim o artista vira o chato mimizento e ele o cara bacana que leva tudo numa boa”.

Não à toa, com Bolsonaro sendo ignorado no Coachella, o jeito foi a equipe do presidente aproveitar uma pequena oportunidade em uma publicação de Anitta sobre as cores da bandeira. “Concordo com a Anitta”, replicou Bolsonaro. A cantora chegou a dar uma resposta: “Ai, garoto, vai catar o que fazer, vai”. Mas na sequência, bloqueou o perfil do presidente. “Meti logo um block pra esses adms dele não ficarem usando minhas redes sociais pra ganhar buzz na internet”.

https://twitter.com/Anitta/status/1515453934764118016?ref_src=twsrc%5Etfw

Mudança de foco

Para Ivana Bentes, professora de comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Anitta “explica que as eleições no Brasil serão uma espécie de BBB político onde ganha quem tem mais fãs”.

“Não é só isso, mas certamente passa por isso: lógica dos fãs, a memética e o jogo nas redes sociais e mais o trabalho das fake news. Daí o ódio de Bolsonaro das manifestações de artistas mainstream e o deboche com Anita (reverter o negativo em positivo)”, complementou a docente. “O Brasil é um dos maiores laboratórios políticos do poder, da potência e do estrago das redes! Criar uma unanimidade positiva também conta e muito”.

Nessa lógica, Para Anitta, a estratégia do lado oposto precisa ser citar o nome do presidente o menos possível. “Eu trocaria o slogan ‘Fora Fulaninho’ para ‘Muda Brasil’ ou algo que desvincule completamente a narrativa do nome dele”.

“Todo mundo já sabe quem é contra e quem é a favor. Se eu paro de falar ‘Fora fulaninho’ e falo ‘Muda Brasil’ você continua entendendo minha mensagem, mas eu não precisei dar mídia para a pessoa. Eu uso isso até na minha pessoal energeticamente”, revelou.