Por Nathália Shizuka

A Lavagem do Senhor do Bonfim é uma festa religiosa e popular que ocorre em Salvador, na Bahia, na segunda quinta-feira do ano. Tem suas raízes na tradição católica e é uma das manifestações religiosas mais importantes da região. A festa celebra o Senhor do Bonfim, um santo católico, mas também incorpora elementos das tradições afro-brasileiras.

Esse sincretismo surgiu como forma de resistência e teve origem durante a colonização e escravização, quando os africanos trazidos como escravizados para o Brasil foram forçados a adotar a religião católica e, em prol de preservar sua fé, misturaram elementos católicos com influências das tradições afro-brasileiras.

O percurso começa na Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia. Durante a procissão, os participantes, vestidos muitas vezes de branco, caminham em direção à Basílica Santuário do Senhor do Bonfim. O trajeto é repleto de manifestações culturais, como apresentações de capoeira, música afro-brasileira e danças, enquanto as baianas, mulheres vestidas em trajes tradicionais, carregam potes de água de cheiro. Durante o ritual da lavagem nas escadarias da Basílica do Senhor do Bonfim, elas têm a responsabilidade de derramar a água perfumada. A chegada à Basílica marca o ápice da celebração, onde ocorre a lavagem simbólica das escadarias.

Segundo registros históricos, a tradição da Lavagem do Bonfim teve início com os moradores locais, que buscavam preparar a igreja para a Festa do Bonfim, uma celebração católica que ocorre no segundo domingo após o Dia de Reis, em 6 de janeiro. Essa “faxina” no templo religioso era realizada três dias antes da festa, numa quinta-feira. Durante o cortejo em direção à colina sagrada, o percurso era marcado por animadas danças. No entanto, em 1889, o arcebispo da Bahia, Dom Luís Antônio dos Santos, proibiu a lavagem da igreja devido às expressivas manifestações culturais presentes no cortejo, destacando a importância histórica e a resistência cultural envolvidas nessa tradição.

Muito mais que um ato de fé, a Lavagem do Bonfim representa resistência e preservação cultural. A celebração não apenas reverencia o Senhor do Bonfim, mas também honra a história e a diversidade do povo baiano, tornando-se uma expressão importante da identidade cultural e da herança afrodescendente na região.

Foto: Jonas Santos