Na América do Sul, 18,4% da população não pode pagar por uma dieta saudável. No Caribe esse número chega a 52%

Foto: Reprodução/ Prefeitura de Osasco

Por Maria Vitória Moura

Segundo o “Panorama Regional de Segurança Alimentar e Nutricional na América Latina e no Caribe de 2022”, da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), divulgado nessa quarta-feira (18), o custo de uma alimentação saudável na América Latina e no Caribe é o mais caro do mundo.

O relatório aponta que uma dieta saudável deve conter todos os grupos alimentares de forma equilibrada e diversificada, incluindo frutas, legumes, grãos integrais, alimentos de origem animal, leguminosas, nozes, sementes, óleos e gorduras insaturadas. A alimentação deve, assim, garantir as necessidades diárias de energia, macronutrientes e micronutrientes essenciais, como proteínas, carboidratos, vitaminas e minerais.

Na América Latina e caribenha, no entanto, o valor médio de uma refeição que englobe os elementos básicos de uma alimentação saudável é de US$ 3,89 por pessoa, podendo chegar a US$ 4,23 no Caribe. Esse valor está acima da média mundial, de US$ 3,54 por pessoa, e a disparidade é ainda maior se comparado com a média nos Estados Unidos e Europa, onde o custo é de US$ 3,19 por pessoa.  Ao converter os valores, um morador da América Latina gastaria aproximadamente R$ 593 por mês para ter uma alimentação saudável, o que equivale a 48,9% do salário mínimo brasileiro em 2022.

“Estamos falando da região do mundo com a alimentação saudável mais cara, o que atinge principalmente as populações vulneráveis, pequenos agricultores, mulheres rurais e populações indígenas e afrodescendentes, que destinam maior percentual de sua renda à compra de alimentos ”, disse a diretora regional do Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (FIDA), Rossana Polastri.

Fome atinge 56,5 milhões na América Latina e no Caribe

Entre 2019 e 2021, o número de pessoas com fome na América Latina e no Caribe aumentou em 13,2 milhões, atingindo 56,5 milhões de pessoas. Cerca de 40,6% da população da região está em insegurança alimentar moderada ou grave, um número muito acima da média mundial, de 29,3%. Isso está relacionado a diferentes indicadores socioeconômicos e nutricionais. O relatório apresenta uma relação entre a incapacidade de pagar uma dieta saudável e variáveis ​​como o nível de renda de um país, a incidência de pobreza e o nível de desigualdade. Outro fator seria o aumento global do valor dos alimentos, causado em parte pela pandemia de Covid-19 e a guerra na Ucrânia.

Como reflexo do aumento do preço dos alimentos in natura e diminuição do poder de compra, a população latina e caribenha tem consumido cada vez mais produtos ultraprocessados, que, devido a uma série de incentivos fiscais, apresenta preços cada vez mais acessíveis. Segundo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), publicado em 2018, o consumo de ultraprocessados na região aumentou em 50% entre 2000 e 2013.

Apesar de serem conhecidos por apresentarem altos níveis de açúcar, gordura total, gorduras saturadas e sódio, além de estarem associados a uma série de doenças crônicas, como diabetes, pressão alta e problemas cardiovasculares, os baixos preços e a propaganda massiva, direcionada principalmente para o público infantil, levou ao aumento significativo do consumo entre a população, o que tem mudado a cultura alimentar de comidas caseiras e típicas nos lares latinos e caribenhos, tornando a alimentação das famílias cada vez mais pobre em nutrientes e outros elementos básicos de uma alimentação saudável.

Acesse o relatório Panorama Regional de Segurança Alimentar e Nutricional na América Latina e no Caribe de 2022 aqui.