A publicação destaca que a ação do homem na Amazônia é centenas, talvez milhares de vezes mais rápida do que os fenômenos naturais climáticos

(Reprodução)

 

A publicação mais recente da Revista Science, um dos periódicos mais respeitados do mundo, traz em sua capa um alerta sobre a perda e degradação florestal na Amazônia. Com o título “Amazônia Perdida”, realça que o grau de devastação está se tornando irreversível. A publicação destaca que a ação do homem na Amazônia é centenas, talvez milhares de vezes mais rápida do que os fenômenos naturais climáticos.

“A floresta amazônica é um hotspot de biodiversidade sob ameaça da contínua conversão de terras e mudanças climáticas. Duas revisões analíticas nesta edição sintetizam dados sobre perda e degradação florestal na bacia amazônica, fornecendo uma imagem mais clara de sua situação atual e perspectivas futuras”, diz a Science ao apresentar dois estudos desta edição.

O que analisa os impactos da Amazônia, titulado “The drivers and impacts of Amazon forest degradation” diz que 34 cientistas revisaram os impulsionadores da mudança na Amazônia. Eles identificaram que as mudanças antropogênicas, como o desmatamento, estão ocorrendo mais rapidamente do que as mudanças ambientais naturais do passado.

Já o estudo dedicado a verificar os impactos humanos e dos processos naturais, titulado “Human impacts outpace natural processes in the Amazon” descreve que “os ambientes amazônicos estão sendo degradados por atividades industriais e agrícolas modernas em um ritmo muito acima de qualquer coisa conhecida anteriormente, colocando em risco suas vastas reservas de biodiversidade e serviços ecossistêmicos globalmente importantes”.

O estudo concretizado por um grupo de 19 autores, incluindo o pesquisador brasileiro Carlos Nobre, do IEA/USP relata que “as ameaças mais substanciais vêm do desmatamento regional, por causa das demandas do mercado de exportação, e da mudança climática global”.

Os pesquisadores alertam que a Amazônia está prestes a fazer uma transição rápida de uma paisagem amplamente florestada para uma não florestada.

“Essas mudanças estão acontecendo muito rapidamente para que as espécies, povos e ecossistemas amazônicos respondam de forma adaptativa. As políticas para evitar os piores resultados são conhecidas e devem ser implementadas imediatamente”.

Em entrevista ao Jornal Nacional, Carlos Nobre reforçou que transformações que levariam milhões de anos para ocorrer, agora estão sendo vistas em poucas décadas. A floresta tem uma capacidade de recuperação que se renova a cada temporada de chuvas. Mas a devastação acelerada pela atividade humana já compromete essa renovação.

Nobre alertou que estamos muito próximos a um ponto sem volta.

“Passando esse ponto, entre 30 e 50 anos nós vamos perder entre 50 e 70% da floresta, que se tornará um ecossistema aberto, muito degradado com imensa perda da biodiversidade”, diz.

Isso significa que áreas antes densas de mata verde fechada vão se tornar campos, áreas enormes sem árvores.