THE CANADIAN PRESS/Darryl Dyck

Por Aline Louzano

Disputar uma Copa do Mundo é o objetivo principal de todo jogador de futebol. Esse caminho já é naturalmente difícil e repleto de obstáculos, contudo, para alguns essa estrada é ainda mais árdua. É o caso de Alphonso Davies, estrela do Canadá, que nasceu em um campo de refugiados de Gana.

Seus pais, Victoria e Debeah Davies, são liberianos e viviam na capital Monróvia, quando a Segunda Guerra Civil da Libéria, que matou cerca de 50 mil pessoas em quatro anos, explodiu. Em entrevista a uma publicação alemã, Debeah contou que tinha apenas duas opções: pegar em armas ou fugir. “Era difícil viver porque a única maneira de sobreviver às vezes é carregar armas. Nós não tínhamos nenhum interesse em atirar com armas. Então, decidimos fugir de lá”, contou.

Dessa forma, em 1999, os dois percorreram 1.531 km, passando por toda Costa do Marfim, até chegar ao campo de refugiados de Buduburam, em Gana, para viver em uma casa de terra batida. Alphonso Davies nasceu no assentamento em 2 de novembro de 2000 e viveu lá por cinco anos.

Em 2005 a família foi aprovada em um programa de reassentamento no Canadá e emigrou para o país norte-americano. Lá, se instalaram na cidade de Edmonton, em Alberta. Mesmo longe da guerra, as dificuldades continuaram e Alphonso era responsável por cuidar dos irmãos enquanto os pais trabalhavam.

E foi através de um projeto social que o futebol entrou em sua vida. Ele foi inscrito pelos pais no Free Footie, programa de incentivo à prática esportiva para jovens que não têm recursos para custear viagens, equipamentos e inscrições em competições.

A partir daí tudo aconteceu muito rápido. Foi recrutado aos 14 anos para jogar Vancouver Whitecaps e, prestes a completar 16 anos, foi integrado ao elenco principal do time. Estreou na Major League Soccer (MLS) no dia 16 de julho de 2016, aos 15 anos, 8 meses e 15 dias, sendo o segundo jogador mais jovem a disputar uma partida na liga, atrás apenas de Freddy Abu.

 

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Ao longo de dois anos na liga, o lateral-esquerdo anotou 12 gols em 81 jogos. As boas atuações chamaram a atenção de um olheiro do Bayern de Munique, que o comprou em 2018 por € 18,7 milhões, sendo a venda mais cara da liga norte-americana. Conquistou 12 títulos com os alemães, dentre eles, a Liga dos Campeões da temporada 2019-20. Com passagens pelas seleções de base do Canadá desde os 14 anos, só obteve sua cidadania em junho de 2017, uma semana antes de estrear pela seleção principal.

Sendo o principal nome do plantel, conduziu o Canadá para sua segunda Copa do Mundo, após 36 anos de ausência na competição. Com uma campanha consistente, o país garantiu a classificação com uma rodada de antecedência e terminou as eliminatórias da Concacaf em primeiro lugar, com 28 pontos.

No entanto, o sucesso meteórico não o fez esquecer de suas origens e lutas. Consciente de seu poder de influência, apoiou uma campanha do governo canadense, chamada Together for Learning, para promover o acesso à educação de qualidade para refugiados em toda parte do mundo.

Foi nomeado Embaixador da Boa Vontade pela ACNUR, o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados em 2021, sendo o primeiro jogador de futebol a receber o título

“Eu quero que as pessoas saibam sobre a importância de ajudar os refugiados, independentemente de onde eles estejam – seja nos campos ou nas cidades; em países vizinhos ou de reassentamento, como o Canadá. Refugiados precisam do nosso apoio para sobreviver, mas também para terem acesso à educação e esportes, para que eles atinjam seus potenciais e prosperem de verdade”.