Cúpula da Igreja é majoritariamente conservadora e alinhada ao governo federal. Um dos seus líderes é o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, preso no âmbito de uma investigação sobre o gabinete paralelo de pastores no MEC

O relator da proposta é o reverendo Osni Ferreira, da Igreja Presbiteriana Central de Londrina. Foto: Reprodução

A Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB), uma das instituições evangélicas mais tradicionais do país, está elaborando um documento para orientar e afastar os fiéis daquilo que os líderes classificam como “nefasta influência do pensamento de esquerda” ou como eles dizem, o “comunismo”, conforme reportagem publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, nesta quinta-feira (21).

Na proposta do Supremo Concílio, os líderes da igreja sugerem a criação de uma comissão antiesquerda formada por altos dirigentes “para elaborar a Carta Pastoral sobre a incompatibilidade da fé Cristã com o Marxismo e derivados”. Os ‘derivados são listados em seguida: “Ideologia de Gênero, Transexualidade, Feminismo, Agenda Abortista”.

Segundo o Estadão, nos bastidores, a proposta é apontada como uma pressão contra fiéis críticos de Bolsonaro e eleitores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que não seriam mais bem-vindos no reduto presbiteriano. “Já não é mais segredo nos círculos presbiterianos que o comando da instituição está diretamente alinhado com o atual presidente e apoiará Bolsonaro na tentativa de reeleição, em outubro”, informou a reportagem.

A cúpula da Igreja Presbiteriana do Brasil é majoritariamente conservadora e alinhada ao governo federal. Um dos líderes da igreja é o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, preso no âmbito de uma investigação sobre o gabinete paralelo de pastores no Ministério da Educação. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) André Mendonça, indicado por Bolsonaro, também é da mesma organização.

Vistas grossas

Ignorando regras impostas pela própria instituição, que orienta os pastores a não pedirem votos, os púlpitos da igreja estão abertos para a campanha de Bolsonaro. No último dia 3, o relator da proposta e reverendo Osni Ferreira, da Igreja Presbiteriana Central de Londrina, usou o púlpito da igreja para pedir apoio à reeleição de Bolsonaro.

“Nós temos que reeleger Bolsonaro. Irmãos, não tem outro caminho para o Brasil. Olha a América do Sul inteira…”, disse Ferreira no culto. O deputado Filipe Barros (PL-PR), aliado de Bolsonaro e membro da igreja, estava presente e também foi “ungido” pelo reverendo para sua campanha à reeleição na Câmara.

Nessa mesma igreja em Londrina que, em janeiro de 2020, o pastor Emerson Patriota, genro de Ferreira, desafiou os fiéis a assinarem uma ficha de apoio à criação do Aliança pelo Brasil, partido idealizado por Bolsonaro. A legenda não saiu do papel e Bolsonaro acabou se filiando ao PL para ser candidato em 2022. Agora, Emerson Patriota também assina a proposta relatada pelo sogro contra as manifestações de esquerda.

A proposta, compartilhada por evangélicos nas redes sociais, será tratada no Supremo Concílio da igreja, órgão máximo de deliberação da denominação, entre os dias 24 e 31 de julho, em Cuiabá. Caso seja aprovado, o documento se tornará um posicionamento oficial da instituição.