Documentário musical foi exibido no Cine-Praça, no último domingo (22)

“Lupicínio Rodrigues : Confissões de um Sofredor” sendo exibido no Cine-Praça. Foto: Leo Lara/Universo Produção

Por Sérgio Madruga

Além do cinema, houve muita música na 26ª Mostra de Cinema de Tiradentes. Unindo as duas coisas, o casamento perfeito pôde ser assistido por centenas de pessoas. Diversas produções fazem um mergulho na vida e obra de grandes nomes da música brasileira. Esse é o caso de “Lupicínio Rodrigues: Confissões de um Sofredor”, documentário musical de Alfredo Manevy, que enaltece o legado de Lupicínio Rodrigues (1914-1974), investigando sua contribuição musical e o contexto histórico desse compositor nascido em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.

Com uma obra repleta de sucessos que ultrapassam gerações, Lupicínio Rodrigues está por trás de canções que, não importa sua idade, certamente você já ouviu uma em alguma situação. Podemos citar “Felicidade”, “Vingança” e “Nervos de Aço”, que sejam na voz dele ou por interpretação de outros artistas, fazem parte do arcabouço cultural brasileiro.

Ao longo do filme, conhecemos mais sobre esse homem tão talentoso e sensível, que assim como inúmeros artistas negros, tiveram suas histórias apagadas.

O filme ganhou uma sessão super especial no Cine-Praça, onde alguns filmes da Mostra são exibidos ao ar livre, com pessoas reunidas em praça pública para celebrar a sétima arte.

“Fiquei impressionado com o público totalmente concentrado e disposto a viver aquela experiência afetiva”, exclama o diretor Alfredo Manevy, que admite ter ficado receoso com a recepção da audiência com o longa, por se tratar de um documentário de época, sobre música – tema nichado -, mas que acabou sendo abraçado pelos presentes na exibição.

Manevy e a equipe do filme conseguiram registros raros, capazes de recontar e enaltecer a carreira de Lupicínio. Sobre os conteúdos pesquisados e selecionados, o cineasta ressalta a importância em proteger esses materiais.

“A preservação e os acervos são parte da cadeia produtiva e do mercado audiovisual brasileiro. Preservação é memória, mas também os arquivos e acervos audiovisuais se transformaram em grandes ativos”, explica Alfredo Manevy. “Nossa querida Cinemateca Brasileira, por exemplo, tem a memória do cinema nacional, das imagens de 100 anos, da história cultural brasileira, das cidades brasileiras, da vida privada brasileira e de toda a estética e ficções, então ela é um componente criativo essencial também”, completa.

Toda a complexidade de Lupicínio, também serviu de incentivo para que o longa pudesse ganhar forma: “Como um homem negro, do sul do Brasil, conseguiu que suas músicas chegassem em Hollywood, atravessando fronteiras, no ritmo de samba? Em geral, a música do Lupicínio é vista como um samba-quase-carioca, mas ele era um homem do sul, da fronteira com a Argentina, e esse artista produziu uma obra musical com mais de 300 composições, tava nas paradas de sucesso da era do rádio, ele entrou na indústria musical de seu tempo, foi uma estrela daquela indústria, e sem sair de Porto Alegre. Isso nos intrigava”, conta Manevy.

O diretor fala também sobre como Lupicínio foi um homem muito delicado e pacificador de conflitos, e que no documentário, era preciso mostrar que haviam conflitos muitos violentos ali em jogo, que ele enfrentou situações violentas, mas que na fala dele são muito suaves: “Mas na voz de outras pessoas e em outros documentos e registros, a gente conseguiu mostrar que alguém como ele, naquele contexto, conseguiu superar uma série de resistências e preconceitos”, conclui.

O roteiro do documentário é assinado também por Manevy, ao lado de Marcia Paraiso e Armando Almeida. O documentário é uma produção da Plural Filmes e Canal Curta. Com montagem de Isabel Castro, fotografia de Anderson Capuano e Ralf Tambke, trilha sonora de Cacá Machado e mixagem de Katia Dotto.

Alfredo Manevy na exibição do documentário. Foto: Ana Pessoa

Leia mais:

Cinema cearense marca presença na 26ª Mostra de Tiradentes com ‘A Filha do Palhaço’, de Pedro Diógenes

Intenso e político, “A Alegria é a Prova dos Nove”, de Helena Ignez, estreia na 26ª Mostra de Tiradentes