Arte para Yayá. Imagens de seu acervo pessoal.

Por Amanda Olbel / @planetafoda

E a #ArtistaFoda desta semana é Yaya Ferreira, 23 anos, artista plástica, ilustradora, encadernadora e grafiteira, nascida e criada em Vicente de Carvalho, zona norte do Rio de Janeiro. Seu trabalho consiste em abordar conteúdos relativos a multiplicidade dos corpos pretos LGBTQIAP+, dentro de narrativas decoloniais, com foco principal em lesbianiedade e procura, sempre que possível, representar seus pares, compartilhando seus  conhecimentos adquiridos. #ArtistaFoda é uma seção semanal desenvolvida pela rede LGBTQIAP+ da Mídia NINJA – @planetafoda – que busca periodicamente apresentar ao público um destaque na cultura e nas artes por meio de entrevistas e bate-papos. 

Yaya nos conta que sempre gostou de desenhar, sendo muito incentivada pelos pais, que sentavam junto a ela com telas, tintas, papeis e lápis coloridos. Muito por conta de uma dificuldade de verbalizar seus sentimentos, pensamentos e desejos, a arte acabou lhe servindo como apoio para poder se expressar visualmente, com muito mais facilidade.

“Sempre desenhei de uma forma não tão consciente, mas como uma maneira de poder colocar as coisas para fora” 

Yaya também teve um professor na pré-adolescência, que percebeu suas predileções e vontades artísticas, incentivando-a a pesquisar e entender o que seria uma graduação na área das Belas Artes. Em função disso, se deparou com o curso de Pintura, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, decidindo que era o que de fato gostaria de fazer profissionalmente, sendo a graduação na qual está inserida desde o ano de 2017.

Foto: Arquivo / João Pedro Fontenele

Antes mesmo de entrar na faculdade, já tinha muito interesse na arte do grafite, mas diz ter se sentido muito “desincentivada” pelas pessoas que viviam nesse nicho, por conta de uma atuação majoritariamente masculina, de faixa etária mais velha e que, portanto, não deveria estar ocupando esses espaços.

Revela ter acatado isso durante um bom tempo, mesmo após entrar na graduação em Pintura. Havia nela esse interesse, mas conta que não que tinha a coragem para poder fazer acontecer. Foi então que Yaya conheceu uma grafiteira chamada JLo Borges, que é sua vizinha. Uma sapatão preta e moradora de Irajá, como ela, que grafitava uma sapa rosa por aí. As duas  acabaram se conhecendo por acaso e que, por terem desenvolvido uma amizade, a ajudou a entrar no mundo da arte de rua. 

“Sinto que eu coloquei [no meu trabalho] o que não consegui encontrar na faculdade: outras pessoas pretas como eu. Pessoas pretas, gordas, lgbtqiap+, sendo representadas de uma forma que não fosse caricata ou feitas por pessoas brancas-hétero-cis. Então para mim foi esse  processo de que ‘como ninguém está me colocando, me representando, então eu vou me  colocar’, e percebi que estava abrangendo todas as outras pessoas que fazem parte desse  lugar, que também são eu, mesmo não sendo eu. Acabo trazendo muito essa questão da unidade e da multiplicidade desses corpos e seres pretos lgbtqiap+, principalmente lésbicas que  é onde eu me encaixo” 

Manifesta também ter entendido que uma das maneiras de colocar essas pessoas pretas no seu trabalho era observar atentamente o que ocorre em seu entorno e levar aquilo que vê na rua para dentro de sua produção. A princípio suas pinturas feitas em papel, tela, ou mídias digitais eram algo distinto ao que Yaya representava no muro, todavia, hoje em dia a produção  é muito mais integrada, fazendo conversas paralelas entre si, tendo se tornado na realidade, uma coisa só.  

Foto: arquivo pessoal

A grafiteira também faz parte de um coletivo chamado “Preta Pinta Preta”, formado por mulheres periféricas conectando suas trajetórias através da arte, e que atuam revitalizando  escolas públicas e espaços culturais no estado do Rio, somando através de pinturas, oficinas e  palestras. As meninas da crew se conheceram nas ruas, participando de projetos em comum, e perceberam compartilhar entre si o desejo de ter um grupo feminino, que pudesse as estar  representando e que também gerasse um retorno positivo para a comunidade em que  estavam inseridas. A formação do grupo ocorreu de maneira muito natural e que até hoje  gera trocas muito intensas e produtivas, executando trabalhos em escolas onde as próprias integrantes trabalham, ou em que seus filhos estudam, abrindo margem para se tornaram  conhecidas no meio e por consequência recebendo convite para fazer outras pinturas.

Yaya também tem um trabalho de encadernação manual, e nos conta que aprendeu a costurá-los sozinha. No início eram feitos apenas para ela mesma, mas se propôs a manufaturar como  fonte de renda após ser demitida do trabalho onde estava. No fim das contas acabou dando  certo juntar a produção dos cadernos com a prática de ilustração, e continuou fazendo por  uma necessidade, mais do que exatamente uma paixão pela técnica antiga, tendo hoje um  desejo de se desenvolver mais no ramo da tatuagem. Entretanto, cada um possui uma  identidade própria, com personagens diferentes e coloridos estampando as capas, e podem  ser encontrados disponíveis para compra em seu site ou perfil do Instagram. 

Para além dessa questão da pandemia, que virtualizou muito as relações pessoais e de  trabalho, ela permanece em um movimento de se conectar com outros artistas que tem o  mesmo eixo de trabalho do que ela, voltado a essa questão mais espiritual e estética da  mulher preta, tendo a internet para ajudar a trazer para perto essas relações que talvez não  teríamos acesso se não fosse pela rede social. 

Foto: arquivo pessoal

Yaya Ferreira já participou em exposições coletivas no Museu de Arte do Rio; trabalhou com  um mural feito pra Flup, feira literária na edição de 2019; expos no segundo PEGA, juntamente  de outros artistas, na edição que aconteceu no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica; e  também participou de eventos de grafite, na Galeria Previdência, como artista convidada, no Encontro Delas, com a Minas de Minas, uma crew de Minas Gerais; e um mural junto da JLo  Borges, no Museu da Rede Nami, visitado pela ativista paquistanesa Malala.

A artista compartilha seus trabalhos e processos pelo seu perfil do Instagram @arteprayaya, disponibilizando também a compra de obras e produtos. Para ficar por dentro dos próximos artistas fodas, nos acompanhe nas redes pela página @planetafoda, frente de mobilização LGBTQIAP+, onde publicamos novidades do mundo das artes toda semana.

Imagens de seu acervo pessoal.

Arte para Yayá. Imagens de seu acervo pessoal.

Arte para Yayá. Imagens de seu acervo pessoal.

Arte para Yayá. Imagens de seu acervo pessoal.

Arte para Yayá. Imagens de seu acervo pessoal.

Arte para Yayá. Imagens de seu acervo pessoal.

Arte para Yayá. Imagens de seu acervo pessoal.

Arte para Yayá. Imagens de seu acervo pessoal.

Arte para Yayá. Imagens de seu acervo pessoal.

Arte para Yayá. Imagens de seu acervo pessoal.