‘Achar que é tarde demais só leva a não fazer nada’, afirmou Hannah Ritchie, editora assistente da plataforma digital Our World In Data, da Universidade de Oxford, no Reino Unido, em entrevista à BBC Future. A frase, dita pela pesquisadora sênior, ficou famosa nos últimos dias por mostrar um otimismo diante dos problemas enfrentados pela sociedade na busca por soluções para a crise climática.

Na entrevista, Ritchie destaca exemplos de problemas ambientais superados, como a destruição da camada de ozônio e a chuva ácida, mostrando a capacidade da humanidade de resolver grandes desafios ambientais.

Esses sucessos, junto com avanços na redução da poluição atmosférica e em políticas públicas eficazes em diversos países, incluindo a China, ilustram o potencial para um futuro mais sustentável, de acordo com ela.

Contudo, o que poucos se lembram é que esse otimismo realista, onde se acredita na melhoria, mas apenas diante de provas de mudanças concretas, já vem sendo falado e proposto pelos povos originários do Brasil, os indígenas.

Ideias para adiar o fim do mundo

Foto: Ana Pessoa/Mídia NINJA

Ailton Krenak, renomado escritor brasileiro, artista e liderança indígena do povo Krenak, escreveu em seu livro “Ideias para adiar o fim do mundo” ensaios e reflexões que abordam temas como a destruição do meio ambiente, a sabedoria indígena, a crise climática, e o papel que cada indivíduo pode desempenhar para construir um futuro sustentável.

O autor convida o leitor a reconsiderar as próprias noções de tempo, sucesso e felicidade, propondo uma existência que valorize o bem-estar coletivo e a preservação do planeta para as futuras gerações.

Ambos os autores compartilham uma preocupação comum com o estado atual do planeta e a urgência de agir diante das ameaças ambientais. Enquanto Krenak enfatiza a importância de uma mudança de paradigma sobre a nossa relação com a natureza, Ritchie destaca os avanços e as possibilidades de um futuro mais sustentável por meio de dados e estatísticas.

Krenak critica a visão predominante na sociedade contemporânea de que a natureza é apenas uma fonte de recursos a serem explorados sem limites, enquanto Ritchie mostra como essas visões estão mudando, com uma crescente conscientização sobre a necessidade de preservar o meio ambiente.

A voz de Ritchie, uma mulher branca europeia, apesar de ressoar mais e perdurar para um lado otimista e progressista, apenas nos lembra ensinamentos ancestrais que vem sido ditos à milênios, mas que muitas vezes não são levados a sério.

Um otimismo realista

Foto: Mrê Krijõhere/ Mídia NINJA

Enquanto nas redes sociais crescem memes a respeito do fim do mundo e um pessimismo toma conta das perspectivas gerais, até mesmo da juventude, quando se fala em crise climática os povos indígenas continuam a resistir pelo direito à terra e à natureza, e pelo direito da terra e da natureza, enquanto seres vivos e ancestrais por si só.

Dados recentes do Imazon mostram que o desmatamento na Amazônia caiu 60% quando comparado ao mesmo período do ano passado, e isso se deve principalmente à resistência dos povos indígenas e sua relação com a natureza.

Isso porque, enquanto os trabalhadores dos órgãos ambientais lutam por melhores condições de trabalho após anos de precarização, ações como fiscalizações, prevenções e até mesmo apreensões podem ser prejudicadas, pondo em risco todo avanço conseguido nesse sentido após a saída de Bolsonaro do poder.

O Futuro é ancestral

O que vem garantindo que a situação não se torne ainda pior são as Terras Indígenas que, quando protegidas e devidamente demarcadas, se tornam territórios exemplos de preservação da sociobiodiversidade.

Em resumo, o otimismo de Ritchie não deve ser recebido com estranheza, especialmente por se tratar de uma cientista de dados, mas sim deve reforçar um movimento ancestral, como nas palavras de Ailton Krenak em entrevista: “a ideia de que o mundo está acabando é uma ótima desculpa para não fazer nada”.