Atores ficaram afastados de Hollywood após caso de assédio e falta de oportunidades

Brendan Fraser, em A Baleia. Foto: Divulgação

Por Victor Meira para a Cobertura Colaborativa Cine NINJA do Oscar 2023

Primeira vez indicados à maior premiação da sétima arte, Brendan Fraser e Ke Huy Quan ganharam destaque por suas aclamadas atuações em A Baleia e Tudo em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo, respectivamente. Não só foram indicados, como ambos venceram o Critics Choice Awards – prêmio da associação de críticos – e o SAG Awards – premiação do Sindicato de atores. Dois termômetros importantes para o Oscar.

Apesar de pioneiros nas indicações e vitórias, os dois não são novatos na indústria. Quan começou quando criança estrelando dois clássicos do cinema: Indiana Jones e o Tempo da Perdição e Os Goonies. Mas depois de alguns papéis menores, não conseguiu nenhum trabalho de destaque por conta da falta de representatividade asiática em Hollywood.

Ke Huy Quan abraça Brendan Fraser. Foto: Divulgação

“Quando eu comecei minha carreira como um ator criança, eu me senti muito sortudo por ter sido escolhido. Conforme cresci, fiquei me perguntando se seria apenas isso. Foi apenas sorte. Durante muitos anos, achei que não tinha mais nada para oferecer” – explicou o ator durante seu discurso após vencer o Globo de Ouro este ano.

Em entrevista ao canal de Josh Horowitz no YouTube, Quan conta que como um ator asiático, demorava às vezes um ano para fazer uma audição para algum papel. Enquanto ouvia companheiros de atuação falarem que conseguiam quatro testes por semana, Quan estava desistindo da carreira. Tal frustração o levou a estudar Cinema na Califórnia e a trabalhar como coordenador de dublês no início dos anos 2000.

Foi apenas em 2018, com o lançamento do filme Podres de Rico, estrelado por um elenco majoritariamente asiático, que o ator se sentiu inspirado a voltar. No mesmo ano, Os Daniels, diretores de Tudo em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo, começaram a escalar o elenco de seu novo filme e Quan viu uma oportunidade.

Ke Huy Quan beija troféu na cerimônia do 29º Screen Actors Guild Awards – SAGA. Foto: Divulgação

Já Fraser, foi um astro nos anos 90, conhecido por seus papéis em A Múmia, George o Rei da Floresta, Deuses e Monstros e muitos outros. Porém tudo começou a desandar, de acordo com o ator, quando foi vítima de um episódio de assédio em 2003. Ao encontrar Philip Berk, na época presidente da Hollywood Foreign Press Association, Fraser teria sido apalpado nas nádegas e no períneo pelo jornalista. O ator escolheu não fazer uma denúncia devido a influência de Berk na indústria e só trouxe isso à tona anos depois, com a crescente do movimento #MeToo, quando vários abusos foram expostos por atores em Hollywood. Philip Berk nega as acusações.

De acordo com uma entrevista à revista GQ, Fraser desenvolveu depressão após o episódio de assédio. Somado com exaustão física e outros problemas pessoais, ficou cada vez mais difícil para o ator conseguir papéis de destaque. Apesar de não ter ficado longe da atuação como Quan, o intérprete de A Baleia se reteve a papéis secundários na televisão. Foi apenas com a série Patrulha do Destino, que Fraser considera que voltou a ser “descolado”.

Apesar de terem trajetórias diferentes, os dois atores favoritos para Melhor Ator e Melhor Ator Coadjuvante no Oscar deste ano tiveram dificuldades para se manter na indústria. Em uma entrevista coletiva para o The Hollywood Reporter, Brendan Fraser e Ke Huy Quan lembraram quando trabalharam juntos. “Nós estávamos em um filme chamado Encino Man em 1991″, relembra Quan. “Nós nos reencontramos depois de muitos anos. Nos abraçamos. E ele [Fraser] disse ‘Key, nós ainda estamos aqui’”.

Texto produzido em cobertura colaborativa da Cine NINJA – Especial Oscar 2023