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Um dos filmes mais bonitos e poderosos da temporada

Por Aquiles Marchel Argolo

‘A Tragédia de Macbeth’ já ganhou incontáveis versões para o cinema, teatro, televisão e quadrinhos. O desafio do diretor Joel Coen (em seu primeiro trabalho sem o irmão Ethan) era tornar uma das tragédias mais assustadoras de Shakespeare em algo que fosse palatável ao público casual sem que abandonasse o texto primoroso e complexo. E ele consegue.

Os generais escoceses Macbeth (Denzel Washington) e Banquo (Bertie Carvel) se deparam com três bruxas enquanto voltavam de uma batalha em que saíram vitoriosos. As criaturas profetizam que Macbeth se tornará barão e depois, rei. Os filhos de Banquo serão os próximos soberanos, assim como os filhos de seus filhos. A princípio incrédulo, Macbeth se enche de ganância pelo trono após a primeira parte da profecia se concretizar e essa ambição é alimentada por sua esposa, a não menos ambiciosa Lady Macbeth, interpretada pela estupenda Frances McDormand.

O primeiro superlativo do filme é sem dúvida a atuação de Denzel Washington. No papel de um Macbeth mais velho que o de costume, o ator consegue uma das melhores atuações da carreira, expressando com voz melodiosa e poderosa as nuances da crescente desconfiança e loucura de seu personagem. Também ator de sucesso no teatro, Washington brilha ao representar um texto fiel ao original, mas sem parecer artificial para as telas do cinema.

Para uma “parceira de grandeza”, como diz o roteiro, Frances McDormand surge (mais uma vez) gloriosa. Sua Lady Macbeth é a representação da culpa e rancor que consomem ambos os personagens. A visceralidade de sua atuação dá a medida certa da qualidade do longa de Coen.

O longa, filmado em preto e branco, pode ser considerado um dos filmes mais bem fotografados da temporada e seu formato de tela 4:3 aumenta a sensação de sufoco, de que haverá uma traição a qualquer momento, assim como a fotografia e o uso de claro/escuro são usados como elementos simbólicos para a ansiedade crescente dos personagens. Com cenário minimalista, o filme assume a influência direta do teatro e também do Expressionismo Alemão (assista aos filmes do cineasta Fritz Lang).

A atuação magistral do casal Macbeth ganha mais contornos épicos com um elenco coadjuvante inspiradíssimo. Desde a curta participação de Brendan Gleeson como o Rei Duncan até a excepcional Kathryn Hunter como as três bruxas que dão o gatilho para todos os acontecimentos que seguem.

O diretor Joel Coen deixa o texto original correr na boca dos personagens sem apelar para cenas de violência gratuitas com fins de entretenimento gratuito. Nada é de graça aqui e é bom não ser subestimado por uma obra.

“A Tragédia de Macbeth” consegue a proeza de ser acessível, poderoso e trazer duas atuações titânicas em uma obra memorável.