A quebrada resiste: Protesto contra racismo e violência policial em Cidade Tiradentes
Cidade Tiradentes é o bairro onde se morre mais cedo em São Paulo: a expectativa de vida é de apenas 57 anos, em média 23 anos a menos que no bairro de Moema onde a expectativa é de 80 anos, segundo o Mapa das Desigualdades de 2019.
Por Kessis Soares
Na tarde do dia 4 de julho, a periferia saiu às ruas novamente em denúncia do Estado e sua política racista, desta vez na Cidade Tiradentes, Zona Leste de São Paulo. Cidade Tiradentes é o bairro onde se morre mais cedo em São Paulo: a expectativa de vida é de apenas 57 anos, em média 23 anos a menos que no bairro de Moema onde a expectativa é de 80 anos, segundo o Mapa das Desigualdades de 2019.
O ato em protesto pelas mortes de cinco jovens por violência policial, mortos antes e durante a pandemia ocorre em meio à disseminação do Covid-19 e demonstra como a população periférica segue sem opções de manter o isolamento social adequado ou respeitar normas de segurança para diminuir as probabilidades de contágio, em conflito com a presença e com a ausência do Estado.
A ausência se expressa na falta de políticas públicas adequadas à realidade dos moradores de favelas e bairros periféricos e a presença por meio da força policial que se exerce em repressão, sequestros, torturas e mortes, como as dos cinco jovens: Paulo Gabriel, Leonardo Monteiro dos Santos, Igor Bernardo dos Santos, Felipe, Brayam, todos jovens de 15 a 18 anos. Pesquisas revelam aumento de mortes por violência policial durante a pandemia de modo que a população segue em risco pela bala e pelo vírus.
O ato é resultado da união de coletivos de Cidade Tiradentes como Bueiro Periférico, Coletivo de Esquerda Força Ativa, Coletivo No Batente, Comitê Mestre Moa CT, CPDOC Guaianás, Frente Anarquista da Periferia, Instituto Du Gueto, Lab Casa Cultural, Mulheres Pretas que movem CT, PSTU Zona Leste, Quilombo Invisível, Quilombo Raça e Classe, Marcha das Mulheres Negras de SP em conjunto com a Rede de Proteção e Resistência Contra o Genocídio além da presença da UP, MLB e MST.
A Rede de Proteção e Resistência ao Genocídio mantém o Fala Quebrada, uma plataforma online para receber denúncias de abuso policial e péssimas condições de trabalho de forma anônima, sem trazer riscos às vítimas.
Desta forma, propõe o mapeamento da violência nas periferias de São Paulo como forma de denunciar e de fomentar políticas públicas para, por meio das informações que irão direcionar sobre onde agir e acionar os órgãos competentes de modo que cumpram com sua função. As denúncias são feitas por preenchimentos de formulários online sem a necessidade de identificação que podem ser acessados nas páginas das redes sociais da Rede de Proteção e Combate ao Genocídio que atua nos territórios periféricos desde 2017.
Os manifestantes caminharam da Praça do 65, passaram em Frente ao Hospital Cidade Tiradentes, pararam em frente do 28º Batalhão da Polícia Militar e dispersaram na Praça em Frente ao Terminal Cidade Tiradentes.
Durante a caminhada foram carregadas imagens de líderes políticos negros como Tereza de Benguela, Milton Santos, Angela Davis, João Cândido, conhecido como Almirante Negro, umas das lideranças da Revolta da Chibata e Sueli Carneiro, doutora em educação e uma das precursoras das cotas raciais no Brasil.