Foto: Marcelo Camargo / Agencia Brasil

“Entre o humano e desumano, o mundo e a história sabem de que lado vocês estão”, escreveu o jornalista Jamil Chade ao deputado federal Eduardo Bolsonaro em sua coluna no UOL.

No último domingo, o parlamentar fez um deboche direcionado à jornalista Miriam Leitão em relação à tortura que ela sofreu nos anos de regime ditatorial no Brasil. Ela havia escrito que Bolsonaro é inimigo confesso da democracia e o deputado retrucou: “ainda com pena da cobra”.

Miriam Leitão foi uma das jornalistas, entre outros formadores de opinião, que estiveram sob tortura durante a ditadura militar. Ela foi presa, agredida fisicamente e passou horas trancada junto a uma jiboia, nua, à época em que estava grávida e militava no PCdoB. Cenas como esta tem sido constantemente trazidos à memória pela exaltação que a família Bolsonaro faz do período cruel do regime militar, conhecido como os “Anos de Chumbo” (1964-1985).

Em mais de uma ocasião, Jair Bolsonaro (PL) fez elogios a Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-chefe do DOI-CODI do II Exército, que foi condenado em 2008 por tortura.

“O que o senhor fez foi uma violação das obrigações internacionais assumidas pelo Brasil e, muitas delas, ratificadas pelo Congresso do qual o senhor faz parte”, disse Jamil em carta aberta ao deputado. “Uma das obrigações que o estado assumiu foi dar garantias de que atos como o dos Anos de Chumbo não voltem a ocorrer. O seu discurso, porém, legitima e habilita aqueles que desejam cometer novas violações”.

“Com tal postura, o senhor sinaliza que o estado deve renunciar ao dever de prevenir futuras violações de direitos humanos, entre elas a tortura”

Jamil reforça ainda sobre a necessidade de preservar a memória dos períodos sombrios da ditadura, citando um dos “Princípios para a Proteção e Promoção dos Direitos Humanos através de Ações de Combate à Impunidade”, um compromisso desfeito enquanto agente público.

Deputados buscam punição

Parlamentares da Câmara dos Deputados acionaram o Conselho de Ética contra Eduardo Bolsonaro a partir de representação construída pelos partidos de esquerda PSOL, PCdoB e PT.

“Não é possível ficar inerte diante da agressão de Eduardo Bolsonaro à jornalista Miriam Leitão. Apologia à tortura é crime!”, escreveu Juliano Medeiros, presidente nacional do PSOL. “Vou pedir, junto com a bancada do PSOL na Câmara, a cassação do filho de Bolsonaro no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. Chega de impunidade!”

“A Câmara dos Deputados não pode aceitar que um deputado deboche dos crimes da ditadura”, escreveu a deputada federal Natália Bonavides (PT). “A solidariedade a Miriam Leitão, torturada aos 19 anos e grávida, precisa ser a punição de Eduardo Bolsonaro. Apresentaremos denúncia ao conselho de ética!”.