Os dados mais recentes do Atlas da Violência, uma publicação anual do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), pintam um quadro alarmante da violência no Brasil. De acordo com o relatório, a desigualdade racial é um fator crítico, com oito em cada dez vítimas de assassinato pertencendo à população negra. Além disso, a pesquisa revela que, mesmo com características semelhantes, uma pessoa negra tem 23% mais chances de ser assassinada do que uma pessoa branca.

O documento destaca um aumento preocupante de 0,5% na taxa de homicídios de mulheres negras entre 2020 e 2021, contrastando com uma redução de 2,8% para mulheres não negras. Os números absolutos são igualmente alarmantes, com 2.601 mulheres negras sendo vítimas de homicídios em 2021, representando 67,4% do total de mulheres assassinadas, e uma taxa 79% superior à das mulheres não negras.

O Atlas aponta fatores econômicos como uma das razões para esse cenário, destacando a discriminação racial e de gênero no mercado de trabalho, o que resulta em menor rendimento para as mulheres negras, tornando-as mais vulneráveis à violência doméstica. O relatório destaca que, historicamente, as pessoas negras são as maiores vítimas de violência no Brasil.

O relatório se baseia em dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) e do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), geridos pelo Ministério da Saúde, além de informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

O aumento da violência de gênero contra mulheres nos últimos anos também é um ponto de destaque no Atlas da Violência, atribuindo o cenário à redução do orçamento para políticas de enfrentamento, ao radicalismo político e aos impactos da Covid-19. Dados revelam que 11,6% das mulheres afirmam ter sofrido violência nos últimos 12 meses, representando um aumento em relação a 2021.

A publicação salienta que os números representam apenas a “ponta do iceberg” e destaca a falta de interesse dos governos em conduzir pesquisas domiciliares nacionais sobre o tema. Além disso, ressalta que a tipificação do feminicídio em 2015 ainda está em processo de aprendizado pelos órgãos de segurança, dificultando a correta classificação dos casos.

*Com informações do Conjur