Dramas comuns de classe média atravessados pela magia do cinema

Steven Spielberg posa com elenco de Os Fabelmans. Foto: Divulgação

Por Carolina Martins para a Cobertura Colaborativa Cine NINJA do Oscar 2023

Os Fabelmans. Um filme que faz você celebrar a insistência em ter assistido apesar da sinopse. O texto protocolar e burocrático sobre o jovem Sammy Fabelman que se apaixona por filmes depois que seus pais o levam para ver “The Greatest Show on Earth” é muito raso perto de tudo que a produção oferece. São 150 minutos de uma história envolvente, de personagens complexas e nem um pouco óbvias.

A direção e o roteiro, semiautobiográfico, são de Steven Spielberg. O enredo é baseado na infância e juventude do diretor, tanto os dramas familiares como o despertar para o mundo da Sétima Arte. Aliás, a família e o cinema foram homenageados de uma forma muito sensível e cuidadosa no filme.

Cena de Os Fabelmans. Foto: Divulgação

Não é a primeira vez que Spielberg aborda a história do cinema em seus roteiros. Para além de referências e menções aos clássicos da produção estadunidense, dessa vez ele acrescenta a própria vivência e leva a gente a acompanhar o desenvolvimento da indústria do entretenimento, das câmeras, dos recursos de edição. Tudo muito bem amarrado com as questões de uma família judia em ascensão econômica nos EUA.

O contexto histórico é o pós-Segunda Guerra, no boom da Terceira Revolução Industrial. O pai da família (Paul Dano) é um engenheiro pragmático, de mente brilhante, que surfa no desenvolvimento da alta tecnologia, com a informática e a robótica.

Um ótimo pai e marido, mas que não alcança o espírito livre da esposa artista (Michelle Williams) – pianista que abriu mão da carreira pela família, mas que não cabe na caixinha do “tradicional”.

Os Fabelmans. Foto: Divulgação.

O jovem Sammy (Gabriel LaBelle), filho do casal, e seu cinema amador são peça chave nessa engrenagem, que vai ganhando contornos cada vez mais interessantes à medida que as relações se aprofundam e as personagens amadurecem.

Spielberg provoca diversas reflexões sobre arquétipos sociais, o sistema patriarcal e a supervalorização da lógica em detrimento da arte – ainda mais marcado no contexto pós-guerra do filme. São expostas relações entre mãe e filho, marido e mulher, entre irmãos, além das chagas sociais do machismo, da xenofobia e de como isso afeta opressores e oprimidos.

Todas essas discussões estão envolvidas em diversas outras camadas, e você percebe, em maior ou menor relevância, conforme o seu próprio contexto. Essa é a magia do cinema – inclusive na metalinguagem do filme.

Indicações ao Oscar 2023:
Melhor Filme
Melhor Direção
Melhor Atriz (Michelle Williams)
Melhor Ator Coadjuvante (Judd Hirsch)
Melhor Roteiro Original
Melhor Trilha Sonora
Melhor Design de Produção

Texto produzido em cobertura colaborativa da Cine NINJA – Especial Oscar 2023