A agente de saúde Suzane da Silva Pereira, 20 anos, que mora em Santo Antônio do Içá, sudoeste do Amazonas,
foi a primeira indígena a testar positivo para o coronavírus / Foto: arquivo pessoal

Com o objetivo de contribuir para os programas de prevenção à COVID-19 entre os povos indígenas, cientistas de quatro universidades brasileiras – Unicamp, USP, UFF e UFRJ – avaliaram informações demográficas, infraestruturais e geográficas e reuniram suas considerações no estudo que acabam de publicar: Análise de Vulnerabilidade Demográfica e Infraestrutural das Terras Indígenas à Covid-19.

A vulnerabilidade de cada povo indígena se dá de acordo com variáveis demográficas, como a estrutura etária, a divisão por gênero e a média de moradores por domicílio, assim como informações sobre as circunstâncias daquele povo –por exemplo, a distância até um hospital com uma unidade de terapia intensiva.

“A ideia é que o material ofereça subsídios para as ações das próprias comunidades e organizações indígenas e do governo para o atendimento à saúde indígena nesse período de pandemia que estamos vivendo no Brasil”, afirmam, no documento, Marta Azevedo (UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas), Fernando Damasco (UFF – Universidade Federal Fluminense), Marta Antunes (UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro), Marcos Henrique Martins (USP – Universidade de São Paulo ) e Matheus Pinto Rebouças (UFF).

Martha Peixoto Azevedo, demógrafa, antropóloga e pesquisadora do Núcleo de Estudos de População Elza Berquó da Universidade Estadual de Campinas (NEPO/UNICAMP), destaca que a falta de estrutura dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIS), responsáveis pelo atendimento aos povos indígenas, é um fator agravante para a alta vulnerabilidade de seus territórios. Soma-se a esse cenário, a baixa imunidade das populações indígenas à infecções respiratórias agudas, como fator preocupante.

“Eles moram em lugares onde o atendimento à saúde é específico e feito pelo Ministério da Saúde por meio das equipes dos DSEIS. Elas ficam nos polos-base ou postos de saúde nas comunidades e não contam com boa estrutura: carecem de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual), meios de transporte como barcos, voadeiras, caminhonetes, carros… Na TI do povo Yanomami, por exemplo, só se chega de avião! Esse serviço de saúde não tem esses meios de transporte ou muito pouco e, neste momento, vão precisar de muito mais”, destaca a pesquisadora.

O estudo indica que a região Norte do país é a que apresenta a situação mais grave, sobretudo o estado do Amazonas. As terras Acapuri de Cima e Balaio estão em situação crítica outras 38 TIs em situação de vulnerabilidade intensa. Quando somadas às TIs com risco alto (70), o estado totaliza 110 TIs em estado de perigo. Rondônia (15), Acre (26), Roraima (30), Pará (40), Amapá (4) e Tocantins (8) apresentam valores muito inferiores ao Amazonas, onde a soma de todas as suas categorias se iguala aos números desse Estado.

Dos 34 Dseis – Distritos Sanitários Especiais Indígenas, há seis que têm o mais alto grau de vulnerabilidade, todas na região amazônica. Veja quais são eles e o tamanho de suas populações:

Alto Rio Negro (AM) – 19.099 pessoas

Yanomami (RR) – 25.972

Xavante (MT) – 19.213

Xingu (MT) – 6.704

Kaiapó do Pará (PA) – 4.559

Rio Tapajós (PA) – 6.074

A pesquisadora também defende a importância da participação das organizações indígenas no planejamento e execução de ações de prevenção contra o coronavírus.

“São essas organizações que estão fazendo a prevenção do seu território. São atores principais, não apenas sujeitos de programas de prevenção. São as pessoas que fazem todo tipo de prevenção que consideram adequada depois de obterem todas as informações a respeito do COVID-19. Então, qualquer providência para melhorar e mitigar a vulnerabilidade das terras indígenas à doença tem que ser feita e pensada em conjunto com as organizações indígenas”, conclui.

A APIB – Articulação dos Povos Indígenas do Brasil publicou nesta quinta-feira alerta dizendo que seguem recebendo denúncias de casos suspeitos em diversos territórios e que não estão sendo testados e devidamente acompanhados. “Seguimos exigindo do Governo Federal e dos governadores em cada estado a adoção de medidas para proteção dos povos indígenas. Não estamos expostos apenas ao vírus, mas também ao aumento das invasões e crimes cometidos contra natureza e as nossas vidas.”, afirmam.

Com informações de Conexão Planeta.