Falta de estímulo, investimento e tecnologia para lidar com os desastres causados pela mudanças climáticas fazem com que os jovens optem por ir morar em cidades grandes

Foto: Joedson ALves / Agência Brasil

Via Agência Brasil

Ocorreu, no final de abril, o 4º Festival da Juventude Rural, em Brasília. No evento, que reuniu mais de cinco mil pessoas no pavilhão do Parque da Cidade, trabalhadores discutiram demandas, reivindicações e trocaram experiências a fim de pensar alternativas para fixar os mais novos no campo. “É importante para a gente estar aqui e trocar experiências”, conta Roseli Silva, 25 anos, trabalhadora rural e moradora da cidade de Joca Marques, no sertão piauiense, a 250 km de Teresina.

Um dos temas mais discutidos no evento foi o “êxodo rural das juventudes” que, segundo a professora e climatóloga Francis Lacerda, pode estar sendo causado também pelas mudanças climáticas. “No final da década de 1990, a gente começou a observar essas alterações no ciclo hidrológico e na forma como as precipitações iam ocorrendo, principalmente no semiárido”, analisa Francis. “O jovem não quer mais ficar no campo porque hoje, além de inúmeras questões de políticas públicas, há, particularmente, a mudança das estações chuvosas”.

O semiárido nordestino é uma das regiões mais vulneráveis a essas alterações, tanto do ponto de vista do clima como socialmente, destaca a pesquisadora. Ela acrescenta que, apesar dos agricultores constatarem essas mudanças como “seca”, ocorre que as chuvas continuam acontecendo, mas em períodos menores.

A agricultora familiar Vânia Marques, secretária de políticas agrícolas da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura (Contag), entende que faltam políticas públicas. “A falta de acesso a melhores condições faz com que os jovens saiam do campo. Na nossa avaliação, os jovens devem ser estimulados a permanecer”. Um caminho, no entender da secretária da Contag, seria a garantia do acesso à terra, mais créditos para plantar e colher, assistência técnica e extensão rural.

Infelizmente, a trabalhadora rural Olivia Serafim, de 28 anos, já sente na pele os problemas advindos da saída das juventudes do meio rural para o meio urbano. Olívia recorda, por exemplo, que os colegas de escola foram partindo para outros lugares:

“Ao invés de plantar o arroz, o feijão, o caju, terminam o Ensino Médio e vão tentar trabalhar no comércio de cidades maiores. Não fui embora porque meu pai me convenceu sobre a luta social”.

Hoje, ela tenta influenciar outras pessoas da faixa etária a trabalhar no campo. Dos 24 jovens da sua comunidade, ficaram somente cinco. “O problema é que os mais jovens estão indo embora. A agricultura se tornou uma atividade difícil. Não chove como antes e não rende mais o que é necessário. Por isso, os mais jovens vão construir suas famílias em outros lugares. Ficam só os mais velhos”, lamenta.

Se envolver desde cedo com a agricultura, criar e melhorar as políticas públicas que incentivem a permanência dos jovens no meio rural e investir em tecnologias que ajudem os trabalhadores a lidarem com as mudanças climáticas e suas consequências para suas plantações são algumas das soluções discutidas para o problema.

“Se nada for feito, até o ano de 2050, a gente vai ter 80% da população em áreas urbanas, o que vai criar um problema complexo nesse futuro próximo”, alerta Francis.