Por Gabi Gonçalves, para Cobertura Colaborativa Paris 2024

Neta Canoa, como é chamada Valdenice Conceição, cresceu perto do mar, na cidade de Itacaré. Em uma família de pescadores, a canoísta que pensava em ser engenheira civil quando mais nova tem uma história antiga com o esporte, que existe há mais de 15 anos.

Aos 13, Neta foi apresentada à canoagem de velocidade pelo seu irmão, que começou a frequentar uma escolinha na cidade onde moravam: lugar que já revelou outros talentos na modalidade. Mesmo conhecendo de perto a estrutura de madeira e o remo, foi o desafio de se manter equilibrada na canoa, apenas com os joelhos apoiados, que instigou Neta a continuar treinando. 

“Era muito difícil ficar em pé, ajoelhado ou sentado (…) Depois que eu superei (o desafio), eu vi que o sonho da minha vida era rodar o mundo em cima de uma canoa. Participar de várias competições… representar o Brasil’’,  disse a canoísta ao podcast Hora H Esportes.

Assim como muitos atletas nordestinos, Neta demorou até conseguir um incentivo financeiro que apoiasse os custos com viagens, equipamentos, alimentação e todo suporte esportivo: o que tornaria possível sua participação nas competições. Foi apenas em 2007, após conquistar a medalha de bronze no Campeonato Brasileiro de Canoagem, que Neta foi beneficiada pelo Bolsa Atleta, com uma renda mensal de R$ 750,00.

Não demorou muito para Valdenice garantir o ouro, embalando, pelo menos, dez títulos nacionais. Em 2015, a baiana trouxe a primeira medalha feminina em Jogos Pan-Americanos de Canoagem, na etapa de Toronto – CA (bronze no C1 200m), além do título mundial de 2017, na República Checa.

Neta nos Jogos Pan-Americanos de Toronto, 2015 | Foto: Reprodução Instagram

Mesmo com um acervo de títulos e uma performance exponencial, questões externas impediam Neta de realizar um dos seus maiores sonhos: subir a um pódio olímpico, como falou ao Podcast Hora H Esportes. Isso porque a modalidade foi proibida de existir enquanto esporte olímpico até a edição de 2020, em Tóquio. 

Ao contrário da canoa masculina, que teve sua primeira participação olímpica em 1936, as mulheres tiveram que derrubar a crença de que “o movimento unilateral característico da prática da canoa poderia danificar o corpo feminino (…), causando potencialmente infertilidade, incontinência urinária e/ou causando o desenvolvimento desigual das partes do corpo.”, segundo o movimento WomanCan Internacional, publicado no site Gênero e Número.

Batendo na trave em sua primeira oportunidade, Neta quase foi aos jogos de Tóquio, já que foi classificada como a melhor atleta das Américas no Mundial de 2019, mas diferente do que achava, existia apenas uma vaga disputada para o continente europeu e americano. Ainda assim, a número 1 da canoa brasileira não desacreditou da sua capacidade e conquistou a vaga olímpica de Paris nos Jogos Pan Americanos de 2024.

“Pra mim é muito gratificante, muito honroso, porque eu vinha lutando desde que eu me conheço por gente. Graças a Deus, no Pan-americano veio a classificação. Fui honrada com essa vaga e vou poder representar o Brasil e a Bahia, numa primeira edição de Jogos Olímpicos da minha vida’’, disse a canoísta em entrevista exclusiva ao Grupo A TARDE.

Neta irá disputar a modalidade C1 200m pelo Time Brasil, que terá início no dia 08/08/2024, às 17:30 no horário de Brasília, com possibilidade de alteração de dia e horário. 

Para escrever essa matéria, foi necessária uma pesquisa de, aproximadamente, três dias, utilizando como principal fonte de consulta o Youtube e canais de podcasts, com relatos da própria atleta. De fontes oficiais e/ou veículos de grande circulação, só foi possível obter informações dos últimos feitos de Neta. Principalmente, após a vitória do último Pan-Americano, classificatório para as Olimpíadas.