Nava Mau e a trajetória de pessoas trans no Emmy Awards
Atriz de “Bebê Rena” pode se tornar a primeira mulher trans premiada em uma categoria de atuação
Por Thays Villar
Neste domingo (15), o mais prestigiado prêmio da indústria televisiva mundial poderá atingir uma marca histórica, caso Nava Mau seja a vencedora da categoria de Melhor Atriz Coadjuvante em Minissérie, Antologia ou Filme para TV, por seu trabalho em “Bebê Rena”.
Ela é a terceira artista trans indicada em uma categoria de atuação no Emmy Awards. Antes dela, Michaela Jaé Rodriguez foi nomeada a Melhor Atriz em Série Dramática, por “Pose” (2022), e Laverne Cox foi lembrada em quatro edições (2014, 2017, 2019 e 2020), concorrendo na categoria Melhor Atriz Convidada em Série Dramática, por suas participações em “Orange Is The New Black”.
Atriz, cineasta, roteirista, produtora e ativista de direitos humanos, a mexicana Nava Mau formou-se em Linguística e Ciências Cognitivas pela Faculdade de Artes Liberais de Pomona, na Califórnia, Estado onde trabalhou em prol de imigrantes, e como conselheira de pares e defensora de pessoas LGBTQIAPN+ sobreviventes de violência na baía de São Francisco.
Em 2019, dirigiu, produziu e protagonizou o curta-metragem “Waking Hour”, que passou por festivais de cinema de todo o mundo após sua estreia de sucesso em Sundance. Em 2020, ela foi uma das produtoras do documentário “Revelação”, que traça um panorama de como os corpos trans foram representados na mídia ao longo do tempo. Seu primeiro papel de destaque foi como Ana, na série americana “Generation”, sobre um grupo de estudantes que explora a diversidade sexual na modernidade, e que foi cancelada após a primeira temporada, em 2021.
Em “Bebê Rena”, Nava interpreta Teri, uma psicóloga que tem um relacionamento romântico com o protagonista Donny, após conhecê-lo em um aplicativo de relacionamento. Ela forma o consistente grupo dos quatro personagens centrais da trama, e transmite, em sublime atuação, qualidades como maturidade e empatia, fazendo de Teri, de muito longe, a personagem mais emocionalmente equilibrada da série.
Além das atrizes citadas no início desta matéria, outras pessoas trans já foram indicadas e vencedoras em outras categorias dentre as mais de dez cerimônias de premiação do Emmy que acontecem ao longo de um ano. Algumas dessas referências não são encontradas na mídia brasileira, reforçando a importância deste registro.
Em 2020, a filipina Rain Valdez foi indicada ao Primetime Emmy de Melhor Atriz em Série Curta de Comédia ou Drama, pela websérie “Razor Tongue”, criada por ela mesma. A produção acompanha uma mulher trans em meio a suas lutas para encontrar um emprego, namorar e manter amizades em um mundo cheio de misoginia e discriminação.
Yance Ford ganhou, em 2018, o prêmio de Mérito Excepcional em Cinema Documentário no Creative Arts Emmy, pelo duro “Strong Island”, filme que dirigiu e produziu sobre o assassinato do seu irmão. Ele foi o primeiro homem abertamente trans – e preto – a ser indicado e a ganhar um Emmy.
Laverne Cox, em 2016, ganhou um Daytime Emmy Awards, na categoria Melhor Programa de Classe Especial, como produtora executiva da produção “Laverne Cox Presents: The T Word”, uma obra documental que aborda sete adolescentes transgêneros desafiando perspectivas sociais para viverem, em plenitude, suas subjetividades.
E muito antes disso, nos anos 80, a já falecida compositora e maestrina inglesa Angela Morley, era figura carimbada nas premiações. Das nove vezes em que foi indicada, ela ganhou dois Creative Arts Emmy de Melhor Direção Musical, em 1985 e 1988, por programas especiais de Natal.
Neste ano, para ganhar o Emmy e a marca histórica, Nava precisará superar o amplo favoritismo de sua colega de cena Jessica Gunning, que está estupenda na pele de Martha, mas que ao meu ver, deveria estar concorrendo na categoria de atuação principal, e não de coadjuvante. Isso se “Bebê Rena”, de modo geral, não for vencido pelas controvérsias causadas pelas polêmicas envolvendo a suposta Martha da vida real. Não é o que a crítica especializada acredita.
Em prévias do Gold Derby, badalado site hollywoodiano de apostas de premiações, a série de Richard Gadd é a mais cotada para vencer pelo menos quatro das seis categorias em que concorre. Domingo saberemos.