“Nós crescemos em uma sociedade onde as pessoas que usam drogas são frequentemente estigmatizadas e criminalizadas. Fumamos os baseados cúmplices de um guerra às drogas que, longe de alcançar seus objetivos, comete um atentado à democracia sufoca as economias e aprofunda as desigualdades sociais. A América Latina é quem mais sofreu suas consequências; centenas de milhares de mortos e desaparecidos fizeram do proibicionismo um guerra contra as pessoas. Ventos de mudanças sopram no Uruguai onde se termina o tempo da ilegalidade, maconha não é mais delito, não é laranja, não é boca.

Nossa geração herdou um erro histórico e pode imaginar um novo horizonte. Ninguém naqueles primeiros Molino de Péres tinha sonhado em comprar maconha nas farmácias dez anos depois.

Um primeiro ciclo se fecha e, desde hoje, com as três vias de acesso habilitadas, os e as usuárias de cannabis podemos abandonar o mercado ilegal. Essa lei, nossa lei, vai muito mais além da liberdade individual de fumar um baseado. Num mundo acostumado a enfrentar a violência com ainda mais violência, a regulamentação da cannabis abre uma pequena fissura na política proibicionista global de drogas, como uma contra-cara pacífica de uma guerra absurda

Hoje o véu proibicionista cai, todos estamos mais felizes de poder falar de drogas com menos tabu. Há 3 anos cultivamos de forma segura e, depois de 43 meses, começam as vendas em farmácias. A falta de transparência do processo e anula implementação da cannabis para uso medicinal são uma mostra de um Uruguai que acelera mas freia, com setores da burocracia pública que ganham autonomia e respeito às definições políticas.

Em tempos de mudança, devemos evitar que as políticas de drogas sejam absorvidas por perspectivas punitivistas ou higienistas.

O cárcere não pode ser a solução quando o tráfico de drogas na periferia seja um ato de sobrevivência, nem a internação compulsória seja a estratégia para abordar o consumo problemático. Entretanto, é preciso multiplicar a incorporação do foco baseado na redução de danos na ação educativa.

E se a regulamentação é uma alternativa efetiva, porque não considerá-la para outras substâncias num futuro? Quem sabe nessa trajetória, parte da sociedade deva aceitar que as drogas, como tem sido ao longo da história, ocupam um lugar entre as possíveis vias de se explorar a consciência. Quem sabe também os usuários de drogas devêssemos preocupar-nos por desmontar as substâncias psicoativas da maquinarias do prazer do capitalismo, disputá-las com um mercado que não as oferece como energia vital sem linguagem, vazia, acrítica.

Hoje Uruguai volta a escrever um marco na história, assim como na escravidão, as oito horas de trabalho, o divórcio e a adoção por casais do mesmo sexo.”

Mesmo que me obriguem, eu nunca vou dizer que o tempo que passou foi melhor…Amanhã é melhor.

Por ProDerechos

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Via Proderechos