Não é novidade a prisão de um jovem negro e a criminalização do funk
“A hipocrisia me intriga e me perturba.”
Apontar que a prisão do Renan da Penha é racismo institucional e mais uma rodada de criminalização do funk é mais do mesmo, isso está muito claro.
De forma breve, vou contrapor essa medida ao universo em que eu vivo: a noite branca e rica do Rio de Janeiro.
Eu trabalho na noite há mais de 10 anos, eu vivo e respiro esse lugar. Alguém sabe me dizer em que momento as drogas foram proibidas para os brancos ricos e de classe média nessa cidade, nesse país?
Eu lembro que ao sair de São Gonçalo pra estudar na PUC comecei a frequentar o bar em frente a faculdade, programa que todo universitário ama. Logo no primeiro dia eu vi as pessoas fumando maconha na rua, enquanto os policiais na viatura subiam e desciam a Marquês de São Vicente ignorando o que ali acontecia.
Pela minha criação, por ser mulher preta e pelo lugar de onde eu vim eu estava muito apreensiva de estar ali.
Aquilo pra mim não era normal, e a única coisa que passava pela minha cabeça era: MEU DEUS, vou me fuder de estar aqui com eles e a minha mãe ainda vai me matar!
Então eu perguntei pra um amigo: – Vocês não tem medo? Ele respondeu com muita serenidade: – Não, eles não mexem com a gente não. Aqui todo mundo é filho de alguém, dá muita treta pra eles.
Nem os 4 anos seguintes da minha graduação em sociologia conseguiriam me dar uma aula tão rápida sobre racismo e classe social.
A hipocrisia me intriga e me perturba.
Tudo não passa de uma gestão racista e da necropolítica do espaço. Ou seja, diante das tensões raciais que estão postas na nossa cidade as “políticas de segurança” servem para definir os que podem e os que não podem, os lugares em que se pode e os que não podem, os indivíduos que tem permissão e os que devem ser encarcerados, quem deve morrer e quem merece viver.
Renan foi condenado por associação ao tráfico a 6 anos e 8 meses de prisão.
Muitos que estão comemorando essa prisão e julgando como corretíssima são os mesmos que se ENTOPEM de drogas nos eventos que trabalho, mandam meme do Michael Douglas e adoram um festival de eletrônico pra “usar umas paradas de qualidade”.
Deve ser muito boa essa sensação de fazer o que quiser e ser totalmente intocável.
Os produtores do Universo Parallelo também estão sendo investigados? Os djs que tocam nos festivais também são coniventes e vistos como fomentadores do tráfico de sintéticos?
Não pretendo criminalizar a cena eletrônica e devolver com punitivismo, mas apenas problematizar o porquê um DJ negro que trabalha em seu local de moradia, onde existe trafico de drogas, tem que ser condenado por isso enquanto em outros locais não ocorre qualquer criminalização ou fiscalização.
A configuração que o Baile da Gaiola apresenta é culpa do….
(a) Renan
(b) Estado
Ele é o idealizador do Baile ou do trafico de drogas e de armas? Se eu trabalho em um evento sou conivente com tudo que ali ocorre?
É tudo igual! O que muda é a cor da pele.