Na ciência, brigadas ou cidades, mulheres atuam no combate ao fogo
Apoiando brigadas, fazendo pesquisas ou mesmo no combate direto, as mulheres têm muito a contribuir
Na ciência, territórios ou nas cidades, as mulheres podem assumir um papel importante no combate ao fogo. A diretora de Ciência do Instituto de Pesquisas da Amazônia, Ane Alencar, comenta o assunto. Ela estuda a relação entre mudança do uso da terra, incêndios florestais e clima, conhece todas essas nuances desde que no início dos anos 2000 passou a estudar o comportamento do fogo.
Além de realizar pesquisas com o uso do fogo experimental na floresta amazônica, onde coordena pesquisa, já acompanhou brigadas em campo para estudar a dinâmica dos incêndios em diversos biomas. “Eu vi o quanto é difícil. O que fiz, no máximo, foi usar um abafador. Sim, tem isso de dizerem que é serviço de homem, mas tem muitas mulheres que tomam isso para si e são bem capacitadas, com experiência no combate direto ao fogo”.
E muitas vezes, diretamente impactadas pelo fogo, muitas mulheres assumiram a prevenção e combate às queimadas e incêndios nos territórios. “A sociedade como um todo é impactada, porque está sendo queimado um patrimônio. Mas muitas mulheres são responsáveis por suas famílias”. Então, acabam tendo que suportar os prejuízos de ordem de saúde e econômica também, quando por exemplo perdem suas roças.
“Queimadas podem deixá-las sem fonte de comida, sem roçado, podem causar a perda de suas casas, a matéria-prima para o artesanato, por exemplo, muito comum em algumas culturas. Então, aí é que surgem muitas mulheres brigadistas, que têm sido muito importantes”.
Ane destaca também o trabalho que as mulheres têm desenvolvido no campo da ciência.
“Acho que cada vez mais a comunidade que trabalha com o fogo, estuda o fogo está se organizando para deixar essas informações mais disponíveis, para ficar mais fácil essa conexão com a sociedade”.
Apoio a brigadas
As mulheres que estão nas cidades e querem ajudar, também podem, sugere, Ane. “Se você faz um bom planejamento, por exemplo, pode ajudar organizações com planos de ação, para quem vai fazer o combate direto. Você apoia a operação e mais uma vez, isso independe se você é homem ou mulher”.
Ela destaca que existem brigadas voluntárias em vários lugares, então, basta se conectar, porque certamente, precisarão de apoio em várias frentes. “E se for o caso de se unir a elas no combate direto. Mas é preciso ressaltar que treinamento é indispensável, porque é um trabalho muito perigoso”, sugere.
Dá para ajudar também com doações. “As mulheres que estão na cidade e se sensibilizam com esse tipo de trabalho, podem buscar canais de doação sérios. Tem várias brigadas, instituições que trabalham com isso e precisam de ajuda. Muitas delas precisam adquirir equipamentos”.
É preciso valorizar o trabalho de brigadistas
Ane Alencar destaca que é preciso lutar ainda, por melhores condições para brigadistas temporárias e voluntárias.
“Enquanto sociedade podemos nos organizar por uma regulamentação da profissão. Hoje não há amparo legal para a atuação como brigadista. Como uma pessoa deixará seu trabalho para atuar por três meses? E como quem poderia se dedicar a um trabalho contínuo nas brigadas pode viver com recursos que vêm só por três meses, por exemplo? Tem outra coisa, o fogo não acontece nos doze meses do ano, mas é um trabalho super perigoso. Inalam fumaça, ficam desidratados, podem inclusive se ferir, mas não tem qualquer amparo legal”, ressalta.