Na cidade mais indígena do país, descobertas arqueológicas apontam densa ocupação e superior a 2 mil anos
Os processos de escavação se deram em 2019 e em 2022 e envolveram colaboração de acadêmicos indígenas
Escavações em São Gabriel da Cachoeira (AM), a “cidade mais indígena do Brasil” reforçam que a Amazônia brasileira foi densamente povoada no passado, de maneira contínua, por populações tradicionais e por pelo menos 2 mil anos. Indígenas de 23 etnias habitam o território atualmente.
Segundo reportagem da Folha de SP, o processo de escavação se deu em 2019 e em 2022, como parte do Programa Arqueológico Intercultural do Noroeste Amazônico (Parinã). Fragmentos de cerâmica estão entre as principais peças encontradas no quintal do ICMBio – considerado um sítio arqueológico multicomponencial – e na praça da cidade.
Indígenas que estudam Arqueologia na Universidade do Estado do Amazonas também integram o time de pesquisadores e principalmente as mulheres, notaram semelhanças das peças do passado com as produções da atualidade. As escavações revelaram riqueza histórica. Afinal, as escavações se concentraram em dois pedaços da terra de um metro quadrado cada, até uma profundidade de 80 cm. Dali foram retirados 12.127 objetos, principalmente fragmentos de cerâmica (9.114) e material lítico, ou seja, pedras com algum tipo de lapidação (2.881 objetos).
Entre os fragmentos estão peças associadas à Tradição Polícroma da Amazônia, em que há aplicação de cores na cerâmica com características que remetem a um período de 800 d.C. até a chegada e ocupação dos portugueses na Amazônia, nos séculos 16 e 17.
A arqueóloga Helena Pinto Lima, do Museu Goeldi e que integra o Parinã, disse que a pesquisa vem comprovando a “presença de assentamentos indígenas grandes e densos” na região. “A Amazônia é colocada como não habitada ou pouco habitada, sem reconhecimento da presença dos indígenas em áreas como o noroeste amazônico”, afirma. “A região tem ocupação antiga, de diferentes povos, com datação de 2.000 anos atrás. É uma terra que carrega uma história antiga.”
Agora, fragmentos e peças remontadas, carregados de significado para 45 mil indígenas da região, retornarão ao alto rio Negro, para uma exposição no começo de fevereiro na maloca da Foirn (Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro) em São Gabriel da Cachoeira.
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