Iquitos, no Peru, receberá, de 12 a 25 de maio de 2025, a segunda edição do Muyuna Fest, um festival internacional de cinema que reúne comunidades, artistas e ativistas na maior cidade do mundo sem acesso por estrada. Esta iniciativa surgiu em 2024, impulsionada por jovens cineastas que buscavam refletir as realidades da Amazônia e promover sua cultura e meio ambiente por meio do audiovisual.

O festival, cujo nome faz referência aos redemoinhos que se formavam nos rios, já havia sido realizado em 2024 na mesma cidade e em outros locais da região, alcançando uma resposta de público e participantes maior que a esperada. Em sua primeira edição, receberam quase mil curtas e filmes, projetando 40 em diferentes áreas urbanas, e produziram 16 curtas-metragens em menos de duas semanas.

Na edição de 2025, o Muyuna Fest homenageará o povo Kukama, guardiões do rio Marañón, reconhecido como sujeito de direitos em 2024. A participação internacional continua crescendo, com países como Colômbia, Panamá, Equador, Brasil, Espanha e Venezuela, além de comunidades indígenas como os Awajun, Shipibo, Quechua, Maijuna, Guna, Yine, Kakataibo e Matses, que enviaram suas produções e compartilharão sua cultura.

No âmbito competitivo, foram selecionadas obras de diversas florestas do planeta para a Competição Internacional. Serão apresentados longas-metragens como Shiringa, do peruano Wilton Martínez, e Manas, da brasileira Marianna Brennand, filmes que abordam problemáticas ambientais e sociais na Amazônia.

Além das projeções, o festival incentiva a criação audiovisual com oficinas de cinema indígena, fotografia e comunicação ambiental. Também serão organizadas atividades em embarcações que percorrem o rio Ucayali, promovendo a memória coletiva. Como explicou Leonardo Tello, diretor da Radio Ucamara, “coletar memórias individuais e coletivas é um dos principais objetivos”. O palco principal, instalado no bairro palafítico de Belém — uma comunidade que fica inundada seis meses por ano —, homenageará as casas flutuantes e as tradições do local.

O evento também inclui tours cinematográficos, conversas e projeções em locais emblemáticos, como a ponte sobre o rio Nanay e o Cine Clube Manguaré. A comunidade, especialmente crianças e adultos que, pela primeira vez, assistem a um filme em tela gigante a partir de canoas ou janelas, participam ativamente dessa experiência única e participativa.

Os filmes do festival refletem a realidade da Amazônia, com histórias que abordam tanto os desafios ambientais quanto as tradições culturais. Um exemplo foi O motor e a melodia, que narra como uma formiga tenta regenerar sua floresta tocando uma flauta, enfrentando um incêndio florestal, enquanto outro curta, 1 2 3 Red Light, Green Light, mostra as aventuras de uma capivara que, preocupada com a destruição ambiental, viaja de Taiwan até sua terra natal.

Um componente importante do festival foi a participação de jovens residentes de Belém, que produziram curtas abordando problemas locais, como a poluição, a violência e a falta de serviços básicos. Histórias como Itaya e Pomarrosa refletiram a dura realidade cotidiana do bairro, conhecido como a “Veneza Amazônica”: ruas inundadas, acúmulo de lixo, problemas de saúde e a luta por sobreviver em um ambiente hostil.

Foto: Alfonso Silva

Apesar das adversidades, persiste um espírito de resistência na comunidade. Como afirma Martínez-Quintanilla, “o festival é um tributo às florestas e seus povos, às comunidades indígenas, portadoras de sabedoria e respostas aos desafios ambientais”. A frase que acompanha toda a edição é: “Em um mundo que afunda, aprendemos a flutuar”.

O Muyuna Fest, além de ser um espaço para exibir cinema, consolida-se como um ponto de encontro onde ativistas, artistas e comunidades indígenas fortalecem seu vínculo cultural e social, promovendo a memória, a cultura indígena e a luta pela conservação dos patrimônios natural e cultural da Amazônia.